Quarentena dia 59 - Fases do que virou sessentena
Parece que a quarentena virou uma sessentena. Amanhã é o dia 60 e eu já nem sei contar mais o tempo direito. Me perco que dia da semana é. Nesse período que não escrevi nada, passei por uma montanha russa de sentimentos que eu dividi por "Fases da Quarentena".
No começo, eu estava super agitada e ansiosa. Era uma mistura de medo do desconhecido, a angústia da situação, tentar manter bem viva a esperança que tudo passaria bem rápido e a luta pra manter a rotina o mais normal possível. Eu não conseguia dormir, não conseguia desconectar durante o dia, sentia uma exaustão que foi virando estafa. Tanta gente reclamando do tédio e eu me sentindo engolida pelo tempo e nem sabia bem a razão. Além do mais, queria estar conectada a todas as notícias na esperança de que alguma delas fosse boa. E claro, a neurose de ver o corona em todos os lugares, o nervosismo em sair de casa, o medo por ver alguém saindo, a briga querendo que todo mundo tomasse banho com água sanitária....
Toda essa aflição virou uma estafa somada a minha companheira ansiedade e meu corpo somatizou tudo. Dores e mais dores e mal estar. Consumir notícias o tempo todo era a pior coisa que eu poderia fazer. A mídia se tornou agressiva. Um dia, em 10 minutos de Jornal Nacional eu senti um vazio horrível, uma angústia enorme, como se não tivesse mais esperança nenhuma pra nada. Hora de desligar a TV, definitivamente. É duro, porque como jornalista eu não posso simplesmente me desconectar das notícias e entrei num conflito muito grande com relação a minha própria profissão. Tive uns dias bem estressante pensando nisso. Busquei equilíbrio no consumo de informação, procurando fontes alternativas, veículos alternativos, menos agressivos, um pouco menos parciais e exploradores, tentando sempre ponderar sobre tudo que eu via e lia e mesmo assim, chegando a passar até uns dois dias sem "me informar".
A fase 3 da quarentena foi de certa calmaria. Tinha uma rotina bem estabelecida, consegui encontrar períodos de descanso no meu dia e... de uma forma até surpreendente, diminuiu minha neura. Num trabalho interno, pensei: "Sobre o quê eu tenho controle?", bom, sobre meu comportamento, ou seja, cuidar da minha higiene, sair de máscara, cuidar da limpeza da casa, tomar o cuidado de não ficar colocando as mãos no rosto. Isso garantia minha completa proteção contra o corona? Não. Mas sobre pegar ou não o vírus, eu não tenho controle. Também não tenho controle sobre as outras pessoas, não posso obrigá-las a fazer o mesmo que eu, nem que fiquem em casa, nem que parem de arrumar discussão por militância na internet. Não sei porque as pessoas saem nas ruas. Talvez elas realmente precisem. Talvez não. Mas eu não posso sair julgando e rotulando e fazendo delas meus inimigos porque elas são... livres, simplesmente isso. Porque saem sem máscara? Talvez achem que não precisa, talvez esqueceram, afinal não temos o hábito, talvez elas não tenham máscara, talvez tenham só uma que estava suja. Eu não sei e não tenho controle sobre isso. Aceitar este fato me trouxe um pouco de serenidade.
Mas vou confessar que tem uma atitude que eu dou uma julgada federal.... porque as pessoas colocam máscara se usam-na pendurada no pescoço? Isso não entendo não...
Porém, de repente, uma reviravolta.
A fase 4 foi de profundo estres e irritação. Eu, que achei que estava zen, comecei a sentir bastante raiva. Passei por situações de nervoso com algumas coisas do trabalho que eu não consegui responder de forma rápida e eficaz e, quando eu vi, tava sofrendo de raiva com as redes sociais. Comecei a ficar indignada com algumas postagens, com compartilhamento de notícias sem o menor critério.... enfim, comecei a ficar meio militante. Fui querer discutir no Facebook, comecei a discutir particularmente com as pessoas pelo WhatsApp e quando vi, estava fazendo algo que eu acho absurdo: perdendo a amizade por idiotice. Por não respeitar a liberdade das pessoas de pensarem e agirem como querem. Isso me fez muito mal. Me senti muito cansada e triste comigo mesma. O problema não eram as pessoas, era o que eu tinha dentro. Quando eu estava querendo bancar a militante de internet, uma amiga minha sabiamente me disse: "dá marcha ré que esse é um caminho sem volta". Acolhi essas palavras porque isso só me faria mal.
Nesse período, saí um dia pra caminhar em uma avenida e tomar um pouco de sol. Me senti meio criminosa. Lembrei de alguns amigos muito queridos que por causa de coisas que publicaram na internet, cheguei a pensar "se o fulano me visse agora, ia perder a amizade, porque ia me chamar de bolsominion genocida irresponsável".
Foi ai que eu percebi uma coisa muito estranha. Talvez seja só impressão minha. Eu não tenho saído de casa se não for pra ir no mercado ou na farmácia. Mas aquele dia, eu precisava sair porque estava com crise de ansiedade, sem poder respirar, com muita dor no corpo e muito frio, apesar de estar um dia muito azul com um sol forte. Encontrei várias pessoas fazendo caminhada e não julguei ninguém, pois talvez, elas estivessem precisando sair um pouco, sentir o sol e o vento na pele assim como eu precisava. Mas percebi que a rede social está rotulando a gente, dividindo. Porque eu vi pessoas postando "isso é pra galera que ta dando rolezinho na rua de cima" e pensei "se me verem caminhando na rua, eu serei a galera do rolezinho que precisa pegar corona vírus pra aprender a.... sei lá, ter empatia?". Não sei se entendem o que eu quero dizer.
Numa marcha forte pela calçada, sentindo uma sensação boa dentro de mim por estar la fora, ver pessoas, mexer meu corpo, esses pensamentos se foram e parei de me culpar e me preocupar com o que iam pensar de mim, mas ao voltar pra casa eu percebi que decididamente, não vale a pena. Não vale a pena ficar militando na rede social, não vale a pena consumir tanta informação, não vale a pena, num momento em que precisamos de união, me deixar levar por coisas tão banais. Porque existe uma grande manipulação. Uma manipulação do demônio. Que quer nos separar, dividir, criar a inimizade.
Acabou que eu melhorei. Menos rede social, mais oração, menos raiva por nada.
Bom, então veio a curta fase 5. Uma semana de muito sono, desanimo, falta total de motivação. Então, eu resolvi simplesmente ser irresponsável. Eu retomei uma série que eu tinha abandonado, e de repente me vi viciada. Depois do expediente de trabalho, eu simplesmente ia maratonar. Só pra deixar claro: eu nunca faço maratona. Eu amo filmes e séries, mas eu sou disciplinada porque sei que me deixo levar facilmente por horas na frente de uma tela com uma boa história, ou não tão boa. Sou crítica mas não cri cri. Por isso, só aos finais de semana: um filme e/ou no máximo três episódios de série.
Mas na semana passada eu falei "dane-se". Assisti episódios todos os dias. Na sexta-feira, a tarde toda, até de madrugada.
Mas minha empolgação e obsessão em assistir, prometo, não tinha nada ver com isso...
ou isso....
NOOOOOOOOOOOO
Mas é porque eu to gostando da história e eu amo os personagens!
Olha, se você já viu Arrow, NÃO QUERO NENHUM COMENTÁRIO A RESPEITO. Sério.
Então.
Foi muito atípico pra mim, um pedaço meu ficou se culpando por não estar sendo pró ativa e produtiva. Mas eu assumi que era uma semana de descanso. Que talvez tenha sido muito necessária, porque hoje estou no dia 3 da fase 6 da sessentena:
Minha ansiedade explodiu.
Fazia semanas que não tinha uma crise como a que venho tendo esses dias e que não passa. Na noite passada eu não podia dormir. Aquela sensação horrível de que coisas muito ruins estão ou vão acontecer e todos os sintomas físicos: muita dor, tremedeira, um frio insuportável mesmo num dia de calor, maxilar travado, intestino zuado, falta de apetite e tudo o mais que eu já deveria estar acostumada mas não acostumo.
Pra ajudar, em abril, aconteceu alguma coisa com minhas costas. Eu acho que é uma inflamação num nervo e esto sentindo uma dor diferente, além de estar com o local parestesiado. Pode ser só uma inflamação por excesso de tensão, mas é lógico que eu estou pensando nas piores possibilidades: tumor, esclerose, uma doença qualquer rara e desconhecida. Enfim, já marquei médico como se estivesse pronta pra receber minha sentença de morte. Até porque, o médico ainda vai demorar uns dias e até lá....
Enfim, segue sem estar fácil, né gente? Tem dias melhores, dias piores. Mas, uma coisa eu tenho percebido. O Senhor Deus não está longe de nós, tem nos ouvido. Jesus Cristo está todos os dias sofrendo conosco, tomando todas as nossas lágrimas e nos ajudando a suportar toda a tribulação. Como eu sei disso? Porque eu ainda não tive um colapso. Porque há dias em que sinto consolo e esperança que não vem de mim ou do mundo. E que se consigo suportar esse período, se ainda levanto depois de cada queda, não é porque eu sou forte ou sei lá, é porque o Senhor me da a graça. E assim vamos.
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