A Dignidade e a Vocação da Mulher II
Feliz 2019 a todos!
Começando o ano seguindo com nossa leitura da Carta Apostólica escrita por São João Paulo II "A Dignidade e a Vocação da Mulher".
União com Deus
O Filho, o Verbo consubstancial ao Pai, Jesus Cristo, nasce como homem, de uma mulher. Este acontecimento conduz ao ponto chave da história do homem sobre a terra, ou seja, da história da salvação.
Estas perguntas, tão profundas, fazem parte da nossa vida e estão encrustadas no nosso coração ainda que não a percebamos de maneira consciente. Pois são justamente estas questões que movem nossas ações. O que acontece é que todas estas questões tem por trás uma realidade muito dura: a morte. Todas elas giram em torno do fato de que somos finitos e um dia não estaremos mais neste mundo. Olhar para esta realidade e se perguntar sobre a vida, de maneira profunda e séria é tão duro, tão difícil que nós queremos fugir ao invés de encará-las. Assim, é melhor se alienar em outras coisas, bandeiras, ideologias, causas, ou se ater aos prazeres, dinheiro, lazer, fazer tudo que possa dar ao corpo uma sensação de felicidade e satisfação. São momentos que passam e como não podemos nos permitir um momento sem prazer, porque logo nos vem a dura realidade da nossa limitação, do sofrimento e da morte, buscamos mais prazer e alienação, chegando a um momento que nada mais é suficiente e assim, vamos partindo para coisas mais pesadas, para experiências sem limites, ainda que isso viole nossa essência.
Muitas vezes, não encontrando mais prazer em nada e sem suportar o peso da vida e o peso da morte, muitas pessoas só vem uma opção: o suicídio. Ou seja, aquilo que mais temos medo, aquilo de que queremos fugir, parece ser a unica solução possível para acabar de um vez com o sofrimento.
Sobre o pano de fundo deste vasto panorama, que põe em evidência as aspirações do espírito humano em busca de Deus - pois todas estas questões e realidade nos levam justamente para Ele- a "plenitude dos tempos", de que fala São Paulo em sua Carta, põe em relevo a resposta do próprio Deus. Este é o Deus que "muitas vezes e de muitos modos falou outrora a nossos pais, nos profetas; nestes últimos tempos, falou a nós no Filho". Filho, que como homem, nascido de mulher, constitui o ponto culminante e definitivo da auto-revelação de Deus à humanidade.
A mulher encontra-se no coração deste evento salvífico. A auto-revelação de Deus, que é a imperscrutável unidade da Trindade, está contida, nas suas linhas fundamentais, na Anunciação de Nazaré. "Eis que conceberás e darás à luz um filho, ao qual porás o nome de Jesus. Ele será grande e será chamado Filho do Altíssimo" - "Como se realizará isso, pois não conheço homem?" - "Virá sobre ti o Espírito Santo e a Potência do Altíssimo".
Maria alcança uma tal união com Deus que supera todas as expectativas de todo Israel e, particularmente, das filhas deste povo escolhido; estas, tendo por base a promessa, podiam esperar que uma delas se tornasse um dia Mãe do Messias. Qual delas, todavia, podia supor que o Messias prometido seria o "Filho do Altíssimo"? Só pela força do Espírito Santo, que "estendeu a sua sombra" sobre ela, Maria podia aceitar o que é "impossível para os homens, mas possível para Deus" (Mc 10,27)
Theotókos
Assim, a "plenitude dos tempos" manifesta a extraordinária dignidade da mulher. Esta dignidade consiste, por um lado, na elevação sobrenatural á união com Deus, em Jesus Cristo, que determina a profundíssima finalidade da existência de todo homem, tanto na terra como na eternidade. Deste ponto de vista, a mulher é a representante e o arquétipo de todo gênero humano: representa a humanidade que pertence a todos os seres humanos, quer homens, quer mulheres. Por outro lado, porém, o evento de Nazaré põe em relevo uma forma de união com o Deus Vivo que pode pertencer somente à "mulher", Maria: a união entre mãe e filho. A Virgem de Nazaré torna-se, de fato, a Mãe de Deus.
Esta verdade, recebida desde o início da fé cristã, foi solenemente formulada no Concílio de Éfeso.
Assim, Maria concebeu um homem que era filho de Deus, consubstancial ao Pai. Portanto, é a mãe de Deus, uma vez que a maternidade diz respeito à pessoa inteira e não apenas ao corpo, nem tampouco apenas à "natureza" humana. Deste modo, o nome theotókos - Mãe de Deus- tornou-se o nome próprio da união com Deus, concedido a Virgem Maria.
A união singular, a Theotókos com Deus, é pura graça, um dom do Espírito. Maria exprime a sua livre vontade e, portanto, a plena participação do "eu" pessoal e feminino no evento da encarnação.
Toda ação de Deus na história dos homens respeita sempre a vontade livre do "eu" humano.
SERVIR QUER DIZER REINAR
O evento da Anunciação é interpessoal: é um diálogo. Todo o diálogo da Anunciação revela a dimensão sobrenatural, mas a graça nunca dispensa nem anula a natureza, antes aperfeiçoa e enobrece. Portanto, a "plenitude de graça", concedida à Virgem - Na saudação: "cheia de graça" - significa a plenitude da perfeição daquilo que é característico da mulher, daquilo que é feminino.
Quando Maria responde às palavras do mensageiro celeste com o seu "fiat", a "cheia de graça" sente necessidade de exprimir a sua relação pessoal, a respeito do dom que lhe foi revelado, dizendo: "Eis a serva do Senhor" (Lc 1, 38).
Na expressão "serva do Senhor" transparece toda a consciência de Maria de ser criatura em relação a Deus. Todavia, a palavra "serva", quase no fim do diálogo da Anunciação, se inscreve na perspectiva integral da história da Mãe e do Filho. Este Filho dirá de si: "o Filho do homem...não veio para ser servido mas para servir" (Mc 10,45). Cristo está sempre consciente de ser "servo do Senhor", segundo a profecia de Isaías.
Maria, desde o primeiro instante da sua maternidade divina, da união com o seu Filho, insere-se no serviço que constitui o fundamento próprio do Reino, no qual "servir...quer dizer reinar".
A dignidade de todo homem, de toda pessoa, e a vocação que a ela corresponde encontraram a sua medida definitiva na união com Deus. Maria é a expressão mais acabada desta dignidade e desta vocação- de todos. De fato, o ser humano, homem ou mulher, criado à imagem e semelhança de Deus, não pode realizar-se fora da dimensão desta imagem e semelhança.
Começando o ano seguindo com nossa leitura da Carta Apostólica escrita por São João Paulo II "A Dignidade e a Vocação da Mulher".
Mulher, Mãe de Deus
União com Deus
O Filho, o Verbo consubstancial ao Pai, Jesus Cristo, nasce como homem, de uma mulher. Este acontecimento conduz ao ponto chave da história do homem sobre a terra, ou seja, da história da salvação.
O Concílio Vaticano II afirmou: "Por meio de religiões diversas procuram os homens uma resposta aos profundos enigmas para a condição humana, que tanto ontem como hoje (e ainda hoje! e cada vez mais) afligem intimamente os espíritos dos homens, quais sejam: que é o homem, qual o sentido e fim de nossa vida, que é bem e que é pecado, qual a origem dos sofrimentos e qual sua finalidade, qual o caminho para obter verdadeira felicidade, que é a morte, o julgamento e retribuição após a morte e, finalmente, que é aquele supremo e inefável mistério que envolve nossa existência, donde nos originamos e para o qual caminhamos".
Estas perguntas, tão profundas, fazem parte da nossa vida e estão encrustadas no nosso coração ainda que não a percebamos de maneira consciente. Pois são justamente estas questões que movem nossas ações. O que acontece é que todas estas questões tem por trás uma realidade muito dura: a morte. Todas elas giram em torno do fato de que somos finitos e um dia não estaremos mais neste mundo. Olhar para esta realidade e se perguntar sobre a vida, de maneira profunda e séria é tão duro, tão difícil que nós queremos fugir ao invés de encará-las. Assim, é melhor se alienar em outras coisas, bandeiras, ideologias, causas, ou se ater aos prazeres, dinheiro, lazer, fazer tudo que possa dar ao corpo uma sensação de felicidade e satisfação. São momentos que passam e como não podemos nos permitir um momento sem prazer, porque logo nos vem a dura realidade da nossa limitação, do sofrimento e da morte, buscamos mais prazer e alienação, chegando a um momento que nada mais é suficiente e assim, vamos partindo para coisas mais pesadas, para experiências sem limites, ainda que isso viole nossa essência.
Muitas vezes, não encontrando mais prazer em nada e sem suportar o peso da vida e o peso da morte, muitas pessoas só vem uma opção: o suicídio. Ou seja, aquilo que mais temos medo, aquilo de que queremos fugir, parece ser a unica solução possível para acabar de um vez com o sofrimento.
Sobre o pano de fundo deste vasto panorama, que põe em evidência as aspirações do espírito humano em busca de Deus - pois todas estas questões e realidade nos levam justamente para Ele- a "plenitude dos tempos", de que fala São Paulo em sua Carta, põe em relevo a resposta do próprio Deus. Este é o Deus que "muitas vezes e de muitos modos falou outrora a nossos pais, nos profetas; nestes últimos tempos, falou a nós no Filho". Filho, que como homem, nascido de mulher, constitui o ponto culminante e definitivo da auto-revelação de Deus à humanidade.
A mulher encontra-se no coração deste evento salvífico. A auto-revelação de Deus, que é a imperscrutável unidade da Trindade, está contida, nas suas linhas fundamentais, na Anunciação de Nazaré. "Eis que conceberás e darás à luz um filho, ao qual porás o nome de Jesus. Ele será grande e será chamado Filho do Altíssimo" - "Como se realizará isso, pois não conheço homem?" - "Virá sobre ti o Espírito Santo e a Potência do Altíssimo".
Maria alcança uma tal união com Deus que supera todas as expectativas de todo Israel e, particularmente, das filhas deste povo escolhido; estas, tendo por base a promessa, podiam esperar que uma delas se tornasse um dia Mãe do Messias. Qual delas, todavia, podia supor que o Messias prometido seria o "Filho do Altíssimo"? Só pela força do Espírito Santo, que "estendeu a sua sombra" sobre ela, Maria podia aceitar o que é "impossível para os homens, mas possível para Deus" (Mc 10,27)
Theotókos
Assim, a "plenitude dos tempos" manifesta a extraordinária dignidade da mulher. Esta dignidade consiste, por um lado, na elevação sobrenatural á união com Deus, em Jesus Cristo, que determina a profundíssima finalidade da existência de todo homem, tanto na terra como na eternidade. Deste ponto de vista, a mulher é a representante e o arquétipo de todo gênero humano: representa a humanidade que pertence a todos os seres humanos, quer homens, quer mulheres. Por outro lado, porém, o evento de Nazaré põe em relevo uma forma de união com o Deus Vivo que pode pertencer somente à "mulher", Maria: a união entre mãe e filho. A Virgem de Nazaré torna-se, de fato, a Mãe de Deus.
Esta verdade, recebida desde o início da fé cristã, foi solenemente formulada no Concílio de Éfeso.
Assim, Maria concebeu um homem que era filho de Deus, consubstancial ao Pai. Portanto, é a mãe de Deus, uma vez que a maternidade diz respeito à pessoa inteira e não apenas ao corpo, nem tampouco apenas à "natureza" humana. Deste modo, o nome theotókos - Mãe de Deus- tornou-se o nome próprio da união com Deus, concedido a Virgem Maria.
A união singular, a Theotókos com Deus, é pura graça, um dom do Espírito. Maria exprime a sua livre vontade e, portanto, a plena participação do "eu" pessoal e feminino no evento da encarnação.
Toda ação de Deus na história dos homens respeita sempre a vontade livre do "eu" humano.
SERVIR QUER DIZER REINAR
O evento da Anunciação é interpessoal: é um diálogo. Todo o diálogo da Anunciação revela a dimensão sobrenatural, mas a graça nunca dispensa nem anula a natureza, antes aperfeiçoa e enobrece. Portanto, a "plenitude de graça", concedida à Virgem - Na saudação: "cheia de graça" - significa a plenitude da perfeição daquilo que é característico da mulher, daquilo que é feminino.
Quando Maria responde às palavras do mensageiro celeste com o seu "fiat", a "cheia de graça" sente necessidade de exprimir a sua relação pessoal, a respeito do dom que lhe foi revelado, dizendo: "Eis a serva do Senhor" (Lc 1, 38).
Na expressão "serva do Senhor" transparece toda a consciência de Maria de ser criatura em relação a Deus. Todavia, a palavra "serva", quase no fim do diálogo da Anunciação, se inscreve na perspectiva integral da história da Mãe e do Filho. Este Filho dirá de si: "o Filho do homem...não veio para ser servido mas para servir" (Mc 10,45). Cristo está sempre consciente de ser "servo do Senhor", segundo a profecia de Isaías.
Maria, desde o primeiro instante da sua maternidade divina, da união com o seu Filho, insere-se no serviço que constitui o fundamento próprio do Reino, no qual "servir...quer dizer reinar".
A dignidade de todo homem, de toda pessoa, e a vocação que a ela corresponde encontraram a sua medida definitiva na união com Deus. Maria é a expressão mais acabada desta dignidade e desta vocação- de todos. De fato, o ser humano, homem ou mulher, criado à imagem e semelhança de Deus, não pode realizar-se fora da dimensão desta imagem e semelhança.
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