Ai meu Deus, eu vou morrer sozinha!
Eu tenho uma família grande para os padrões atuais. Apesar de só ter irmãos homens, o que sempre me garantiu certa exclusividade nas experiências femininas, eu cresci muito habituada a sempre ter companhia, pois meu pai sempre fez questão de valorizar a união familiar: todos fazendo as refeições juntos em volta da mesa, rezar juntos, passear juntos, cinema juntos, viajar juntos etc.
Ser a única filha sempre me garantiu também a companhia integral e exclusiva da minha mãe pra todos os momentos, e, como eu sou uma pessoa bastante caseira, meu tempo sempre foi acompanhado pela família. Ainda que eu estivesse no meu quarto, fazendo minhas coisas, eu sabia que era só abrir a porta e lá estaria alguém fazendo barulho garantindo que eu não estaria sozinha, o que é um grande alívio!
Além disso, sempre tive amigos, claro. Meus programas eram básicos: ir na casa deles, ou ir ao cinema, ou uma caminhada, sair pra comer. Eu sempre adorei poder passar um tempo com os amigos, absolutamente.
Mas conforme a gente vai crescendo e se tornando adulto, as coisas tendem a mudar. Vem trabalho e faculdade... o tempo se torna mais escasso.... um tira férias em janeiro, outro em março, outro em setembro. E a vida familiar começa a mudar um pouco a configuração.... e aparecem as namoradas/os dos irmãos e dos amigos...
Então, chegou um momento em que meus pais eram minhas únicas companhias em casa e pra sair. Tudo bem, porque eu adoro, mas fica faltando alguma coisa. Cadê o barulho dos meninos?
Só que, não é sempre que meus papes estão disposto a sair comigo, ir ao cinema, ir caminhar, ir num parque ou qualquer programa que eu quero e eles não.
Ai tem os amigos.... que também estão com seus namorados, fazendo programas de casais etc. Na verdade, atualmente, boa parte dos meus amigos está planejando a festa de aniversário do primeiro filho...
Assim, apesar de gostar da minha vida caseira e tranquila, comecei a me sentir um pouco esquisita. A idade vai avançando e parece que a vida de todo mundo ta indo pra frente e a minha não. Mas tudo bem, a gente afasta esse pensando pra não piorar as crises de ansiedade.
Então, aqui estou eu. Com quase todos os meus amigos casados ou prestes a casar. E com filhos! ou grávidos! Ou prestes a engravidar.
Não é que eu não possa estar com eles. Claro que posso. Amo meus amigos e as família deles, seus filhos... adoro ir até a casa deles pra comer, brincar com as crianças, preparar festas de aniversários, o melhor de tudo....

Quando somos crianças, claro, vamos a festas de crianças e nos divertimos com nossos amigos. Depois, adolescentes, já não temos mais festas infantis. Porém, quando nos tornamos adultos, voltamos a ir em festas infantis. E em muitas! Com muito salgadinho, muito doce, muito bolo.... Se esse não é um dos melhores programa de diversão da vida, você ta se divertindo errado.
E meus amigos que já tem família são muito maravilhosos comigo, se lembram de mim, me incluem, me ajudam, me levam para ver vestido de madrinha de casamento quando preciso... Há uma especialmente, que mesmo com seus filhos pequenos, sempre encontra um tempinho para mim e escuta meus dramas de menininha com muita paciência, me ajuda e isso preenche meu coração!
Mas, apesar disso, há momentos que não há ninguém disponível para um programa de solteiro. Por exemplo, ir ao cinema ver filme de adulto. Amo desenhos, mas quero ver filmes que não interessam pra crianças e mais: legendados! Porque se tem um negócio que me dá agonia é ver filme dublado. Ou ir comer em algum lugar e conversar sobre assuntos que não incluem maridos e filhos. Até porque, não os tenho. É ai que as companhias começam a ficar mais escassas.
E assim, eu estou tendo que acostumar as fazer as coisas sozinha.
Na sexta de Black Friday de 2018, dia 23 de novembro, eu fiz uma mochila pesada e fui trabalhar. Estava decidida que sairia do trabalho 12h e iria pro shopping porque precisava comprar um presente e um creme de cabelo. Quem sabe eu não achasse uma promoção legal.
Lá fui eu. Saí do trabalho e segui a pé para o shopping. Já cheguei lá morta e desmaiando de fome. Ai bate aquela sensação estranha parte um. Sentar sozinha pra almoçar numa mesa de 4 lugares.
Eu não gosto muito disso, mas quando comecei a olhar ao meu redor, vi que várias pessoas estavam almoçando sozinha. Até fiquei mais consolada.
Ok. Almoçar sozinha é super natural e na verdade, já passei por isso várias vezes, desde a minha adolescência. Quantas vezes precisava ficar na escola e ia almoçar no restaurante da esquina sozinha. Acontece... de vez em quando temos que almoçar fora, sozinhos. Faz parte da vida.
Mas não resisti em mandar uma mensagem pra minha mãe falando da fila do BK que estava vendendo 3 lanches por 15 reais! Estava um caos aquilo.
E foi ai que minha mãe, mesmo estando em outra cidade naquele momento, praticamente me acompanhou no shopping....fiz vários comentários com ela:
"A Americanas tá um caos" - acompanhado de foto. "Muita gente está com o galão de 3 litros de OMO líquido. Nossa, deve estar com um preço ótimo...". Sim, já tenho meu lado dona de casa.
Então, mensagem de áudio "Acabou o OMO.... mas pra encarar essa fila, só valia a pena se estivesse 5 reais o galão".
E segui:
"A Antix ta intransitável".
"Abriram um quiosque da Kerastase"
Etc
Etc
Etc
Mas ainda assim, ela não podia me ajudar a escolher o presente que eu precisava comprar e eu tive que decidir sozinha. Eu sou péssima em tomadas de decisões, sempre sinto que preciso de uma opinião. Também tive que me encantar e sofrer sozinha na Camicado, sem poder fazer comentários do tipo "ah, olha isso!", "nossa imagina isso naquele móvel", "ai, vamos levar um desse?", "não aguento mais ser pobre".
Mas a coisa complicou a hora que eu resolvi aproveitar que estava ali e ir ao cinema ver Animais Fantásticos - Os crimes de Grindelwald.
Eu prefiro ir ao cinema acompanhada, lógico, mas ir sozinha está se tornando um hábito. Desde que comecei a faculdade, acontece de eu ir sozinha, mas em 2019, a frequência em que isso aconteceu aumentou bastante. Eu deveria estar acostumada, mas ainda não é fácil. E isso não está relacionado somente com me sentir sozinha ou não ter com quem comentar o filme... explico melhor com os fatos:
Eu estava com uma mochila pesada que já estava arrebentando com minhas costas e duas sacolas na mão esquerda.
Logo que cheguei no shopping, prevendo a dificuldade de pagar o almoço, já deixei meu cartão no bolso e não guardei mais na carteira que ficaria perdida dentro da minha mochila. Então, ótimo, cheguei no caixa vazio do Cinépolis, já com o cartão na mão. Só que, pra ter o benefício da meia entrada, uma vez que o cinema tem parceria com meu banco, precisa apresentar o RG... e eu não tinha lembrado disso, até a moça pedir.... ai ai.
Lá vou eu botar tudo em cima do balcão abrir minha mochila e caçar minha carteira. E começa: tira a necessaire, tira desodorante.... tira agenda, põe tudo no balcão, até achar. Ninguém pra ajudar a segurar as coisas.
Ok. Consegui.
Como já faziam horas que eu tinha almoçado e já estava com fome, decidi comprar uma pipoca e uma água. Continuava com as duas sacolas na mão esquerda e a mochila pesada nas costas. Quando a moça colocou a pipoca e a água na minha frente....
ô ôu....
Como é que eu vou segurar as sacolas, pegar a pipoca, a água, os guardanapos e ainda dar meu ingresso na porta da sala?
Enfiei as sacolas no pulso, pipoca numa mão, ingresso, guardanapo, canudo e água na outra, com muito cuidado pra garrafa molhada não molhar o papel. Ingresso colocado estrategicamente entre o dedo médio e o anelar, pra moça só puxa-lo pra checar.
Ótimo. Passos lentos, sem pressa, concentração e equilíbrio pra não derrubar a pipoca e vamos. Rezando muito pra moça não pedir pra eu apresentar meus documentos outra vez.
Quando a moça me viu chegando, já começou a rir. Ela deve estar acostumada com esse tipo de situação, porque puxou o ingresso da minha mão com muita habilidade. Eu achei que a coisa ia complicar mais um pouco, porque além de ter pegar o ingresso de volta, eu tinha que pegar os óculos 3D. Estava pensando que só me restava abrir a boca pra ela enfiar os óculos entre meus dentes, mas como eu falei, a moça deve estar tão acostumada com esse tipo de situação, porque muito habilmente, abriu meus dedos e enfiou o óculos e o ingresso ali no meio. Ah! e graças a Deus não pediu meus documentos.
Quando eu estava indo, finalmente, pra sala do filme, me ocorreu outro pensamento infeliz.... como é que eu ia fazer pra sentar na cadeira? Quero dizer, são aquelas poltronas que fecham sozinhas e você precisa da mão pra conseguir se sentar. Foi ai que eu pensei:
"MEU DEUS, MAS QUE DROGA VIR SOZINHA AO CINEMA". Me deu 2 segundos de revolta REAL. Aquele momento em que um simples pensamento vira uma tempestade e de repente uma enxurrada de pensamentos fracassados me vieram a mente.
Como o cérebro da gente é uma coisa estranha... ele faz cada coisa. Praticamente, eu podia parar no meio do corredor e abrir um berreiro frustrado e carente.
DEBORAH REGINA. SE CONTROLA. PARA DE DRAMA.
Cheguei a minha poltrona que, ainda bem, era a da ponta e do lado de um degrau alto. Coloque ali a pipoca, a água, canudo e guardanapo, tirei a mochila, finalmente me sentei e consegui me ajeitar. UFA.
Enquanto esperava a luz apagar, lutando comigo mesma pra não comer a pipoca toda antes do filme, respirei fundo e pensei que aprender a viver sozinha é preciso. Aceitar pra doer menos também é um ditado real.
Tomar decisões sozinhas, lidar sozinha com os imprevistos, desfrutar do lazer sozinha, aceitar a própria companhia, fazer comentários e dialogar consigo mesma...
E se adaptar.
Buscar receitas de bolo de caneca e matar a vontade com isso, ainda que não seja lá muito bom...
Superar a preguiça de cozinhar só pra você e ter que aprender a fazer a quantia certa pra não desperdiçar demais, sobretudo quando você é a única que está fazendo dieta, e encontrar utensílios fofos para um só, como essa cafeteira linda que eu trouxe da Itália.
Não é fácil perceber isso e ficar bem. A gente passa por umas crises. A questão não é nem tanto estar solteira ou não, mas é se encaixar, como eu falei. As pessoas com quem você cresceu tem outras prioridades agora, pensando em seus filhos e cônjuges, seguindo o curso da vida. Hoje, minhas amigas mais próximas são 3, 4 anos mais novas que eu e esses dias me peguei pensando que logo elas também vão namorar e casar e assim, eu já preciso diminuir a faixa etária das amigas. Já me imaginei sendo aquela amiga solteirona mais velha que é a que dirige e tem que dar carona para galera no dia do rolê.... quem me dera. Pois isso significaria que eu tenho um carro pelo menos....
Mas é engraçado porque ai você acaba sendo aquela amiga que já passou por aquelas situações de faculdade, conseguir trabalho, tem PHD em paixão frustrada, já amadureceu um pouco com as lambadas da vida e acaba sendo a conselheira da galera, não que eu saiba o que estou fazendo da minha vida, mas sabe, pelo menos da uma impressão de que você está sendo útil de alguma forma.
Claro que o pior é pensar no futuro, quando meus irmãos estarão todos com suas famílias, e meus pais já bem velhinhos ou depois que eles se forem.... o que será de mim? Isso causa um pouco de tristeza.
Nosso cérebro é um verdadeiro sapeca, porque não é como se minha sentença já estivesse sido traçada, mas diante do hoje, vem esse medo inadequado sobre o futuro.
Mas, eu percebo que o maior risco de viver sozinha é o de fechar-se em si mesma. Aprender a viver "sozinho" não é aprender a ser autossuficiente, fechar-se no egoísmo e no egocentrismo. É perigoso porque podemos cair no vitimismo, no eu me basto, nas minhas coisas, meu mundo e se torna muito difícil olhar para o sofrimento ao nosso redor, ter um pouco de empatia e solidariedade, fazer algo pelo outro e sobretudo, ser tolerante diante das contrariedades e das discordâncias.
Eu percebi isso porque é o que acontece comigo e parece que tem sido cada vez pior. Ultimamente, percebi que me custa um pouco mais estar com a família e as coisas não serem como eu quero, no meu tempo e no meu ritmo, enfim, e vi que o pior que pode nos acontecer não é estar fisicamente sozinho, mas sim, se fechar.
Depois do dia difícil do cinema, eu passei por outra experiência que me ajudou.
Fiz uma viagem de um final de semana para o interior do estado em função de um compromisso. Fui de ônibus, muitas horas de viagem dividida em duas partes porque não tinha um trajeto direto. Para mim, isto também é muito desconfortável pois me deixa bastante ansiosa e insegura. Claro que tem uns perrengues dos lobos solitários, como por exemplo, precisar ir ao banheiro com a mala e a mochila, ou seja, não poder pedir pra ninguém "olha minhas coisas que vou no banheiro". Só pra reforçar: BANHEIRO DE RODOVIÁRIA.
Conseguir ir e voltar em segurança, dando tudo certo e sobretudo sem ter nenhuma crise de ansiedade, para mim é uma grande vitória. Mas não foi só isso. Naquele final de semana, eu passei por uma situação que me deixou um pouco chateada, uma conversa sobre estar solteira e sobre ansiedade. Mas em seguida, uma outra pessoa veio conversar comigo sobre o Transtorno de Ansiedade, me contando tudo que ela sentia, dizendo que ela não conseguia se abrir sobre aquilo e eu simplesmente.... nossa, conversei com ela tanto quanto pude, dando a minha experiência. Aquilo me confortou tanto porque eu vi que toda minha experiencia de vida, o que eu sofro e não sofro, o que sinto e não sinto, pode estar em função de outras pessoas, de ajudar outras pessoas e é o que faz a gente feliz.
Por isso que vejo que o que pode matar e consumir nossa vida em tristeza é se fechar e olhar só pra si, pro próprio umbigo. Mas isso pode acontecer com uma pessoa casada, com uma pessoa com filhos... com muitos irmãos ao redor. Porém, o convívio com o outro nos força a sair um pouco de nós mesmos para estar bem com o outro. Ou então, fazer da vida comunitária um inferno. A paz existe quando há doação.
Assim, apesar de entender que cada um tem uma história de vida e hoje esta é a minha, que preciso seguir amadurecendo com pessoa, como mulher, me tornando uma adulta com força para lidar com as diversas situações da vida, Graças a Deus, depois de um programa de lazer comigo mesmo, posso chegar em casa e ainda encontrar minha família. Ainda podemos sentar juntos para tomar café com um bolo feito por mim! E como é bom escutar o outro, dividir experiências e conversar.
E como é bom ter amigas mais novas que confiam e você e te procuram para poder partilhar as história e pensar que os fatos da minha vida podem incentivá-las e animá-las.
E assim eu percebo que o estar sozinho é algo que não depende de ter alguém do seu lado ou não, mas depende do quanto nós estamos dispostos a nos doar. Porém não é algo tão simples, é uma luta contra nós mesmos.
Então, ai vem mais um ano. Mais idas ai cinema sozinha, mais viagens sozinhas, porém com mais oportunidades de amar e de ajudar outras pessoas.
Agora... sobre estar solteira ou não. Paz. Há momentos certos para tudo e a ansiedade e o impulso costumam gerar consequências que com certeza, preferimos evitar.
Pra finalizar, a música que deu título a este post: (uma música que eu gosto muito aliás e do clipe também... hehehe)
Ser a única filha sempre me garantiu também a companhia integral e exclusiva da minha mãe pra todos os momentos, e, como eu sou uma pessoa bastante caseira, meu tempo sempre foi acompanhado pela família. Ainda que eu estivesse no meu quarto, fazendo minhas coisas, eu sabia que era só abrir a porta e lá estaria alguém fazendo barulho garantindo que eu não estaria sozinha, o que é um grande alívio!
Além disso, sempre tive amigos, claro. Meus programas eram básicos: ir na casa deles, ou ir ao cinema, ou uma caminhada, sair pra comer. Eu sempre adorei poder passar um tempo com os amigos, absolutamente.
Mas conforme a gente vai crescendo e se tornando adulto, as coisas tendem a mudar. Vem trabalho e faculdade... o tempo se torna mais escasso.... um tira férias em janeiro, outro em março, outro em setembro. E a vida familiar começa a mudar um pouco a configuração.... e aparecem as namoradas/os dos irmãos e dos amigos...
Então, chegou um momento em que meus pais eram minhas únicas companhias em casa e pra sair. Tudo bem, porque eu adoro, mas fica faltando alguma coisa. Cadê o barulho dos meninos?
Só que, não é sempre que meus papes estão disposto a sair comigo, ir ao cinema, ir caminhar, ir num parque ou qualquer programa que eu quero e eles não.
Ai tem os amigos.... que também estão com seus namorados, fazendo programas de casais etc. Na verdade, atualmente, boa parte dos meus amigos está planejando a festa de aniversário do primeiro filho...
Assim, apesar de gostar da minha vida caseira e tranquila, comecei a me sentir um pouco esquisita. A idade vai avançando e parece que a vida de todo mundo ta indo pra frente e a minha não. Mas tudo bem, a gente afasta esse pensando pra não piorar as crises de ansiedade.
Então, aqui estou eu. Com quase todos os meus amigos casados ou prestes a casar. E com filhos! ou grávidos! Ou prestes a engravidar.
Não é que eu não possa estar com eles. Claro que posso. Amo meus amigos e as família deles, seus filhos... adoro ir até a casa deles pra comer, brincar com as crianças, preparar festas de aniversários, o melhor de tudo....

Quando somos crianças, claro, vamos a festas de crianças e nos divertimos com nossos amigos. Depois, adolescentes, já não temos mais festas infantis. Porém, quando nos tornamos adultos, voltamos a ir em festas infantis. E em muitas! Com muito salgadinho, muito doce, muito bolo.... Se esse não é um dos melhores programa de diversão da vida, você ta se divertindo errado.
E meus amigos que já tem família são muito maravilhosos comigo, se lembram de mim, me incluem, me ajudam, me levam para ver vestido de madrinha de casamento quando preciso... Há uma especialmente, que mesmo com seus filhos pequenos, sempre encontra um tempinho para mim e escuta meus dramas de menininha com muita paciência, me ajuda e isso preenche meu coração!
Mas, apesar disso, há momentos que não há ninguém disponível para um programa de solteiro. Por exemplo, ir ao cinema ver filme de adulto. Amo desenhos, mas quero ver filmes que não interessam pra crianças e mais: legendados! Porque se tem um negócio que me dá agonia é ver filme dublado. Ou ir comer em algum lugar e conversar sobre assuntos que não incluem maridos e filhos. Até porque, não os tenho. É ai que as companhias começam a ficar mais escassas.
E assim, eu estou tendo que acostumar as fazer as coisas sozinha.
Na sexta de Black Friday de 2018, dia 23 de novembro, eu fiz uma mochila pesada e fui trabalhar. Estava decidida que sairia do trabalho 12h e iria pro shopping porque precisava comprar um presente e um creme de cabelo. Quem sabe eu não achasse uma promoção legal.
Lá fui eu. Saí do trabalho e segui a pé para o shopping. Já cheguei lá morta e desmaiando de fome. Ai bate aquela sensação estranha parte um. Sentar sozinha pra almoçar numa mesa de 4 lugares.
Eu não gosto muito disso, mas quando comecei a olhar ao meu redor, vi que várias pessoas estavam almoçando sozinha. Até fiquei mais consolada.
Ok. Almoçar sozinha é super natural e na verdade, já passei por isso várias vezes, desde a minha adolescência. Quantas vezes precisava ficar na escola e ia almoçar no restaurante da esquina sozinha. Acontece... de vez em quando temos que almoçar fora, sozinhos. Faz parte da vida.
Mas não resisti em mandar uma mensagem pra minha mãe falando da fila do BK que estava vendendo 3 lanches por 15 reais! Estava um caos aquilo.
E foi ai que minha mãe, mesmo estando em outra cidade naquele momento, praticamente me acompanhou no shopping....fiz vários comentários com ela:
"A Americanas tá um caos" - acompanhado de foto. "Muita gente está com o galão de 3 litros de OMO líquido. Nossa, deve estar com um preço ótimo...". Sim, já tenho meu lado dona de casa.
Então, mensagem de áudio "Acabou o OMO.... mas pra encarar essa fila, só valia a pena se estivesse 5 reais o galão".
E segui:
"A Antix ta intransitável".
"Abriram um quiosque da Kerastase"
Etc
Etc
Etc
Mas ainda assim, ela não podia me ajudar a escolher o presente que eu precisava comprar e eu tive que decidir sozinha. Eu sou péssima em tomadas de decisões, sempre sinto que preciso de uma opinião. Também tive que me encantar e sofrer sozinha na Camicado, sem poder fazer comentários do tipo "ah, olha isso!", "nossa imagina isso naquele móvel", "ai, vamos levar um desse?", "não aguento mais ser pobre".
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Alguém me dá um item dessa coleção da Camicado de presente, POR FAVOR!!! |
Mas a coisa complicou a hora que eu resolvi aproveitar que estava ali e ir ao cinema ver Animais Fantásticos - Os crimes de Grindelwald.
Eu prefiro ir ao cinema acompanhada, lógico, mas ir sozinha está se tornando um hábito. Desde que comecei a faculdade, acontece de eu ir sozinha, mas em 2019, a frequência em que isso aconteceu aumentou bastante. Eu deveria estar acostumada, mas ainda não é fácil. E isso não está relacionado somente com me sentir sozinha ou não ter com quem comentar o filme... explico melhor com os fatos:
Eu estava com uma mochila pesada que já estava arrebentando com minhas costas e duas sacolas na mão esquerda.
Logo que cheguei no shopping, prevendo a dificuldade de pagar o almoço, já deixei meu cartão no bolso e não guardei mais na carteira que ficaria perdida dentro da minha mochila. Então, ótimo, cheguei no caixa vazio do Cinépolis, já com o cartão na mão. Só que, pra ter o benefício da meia entrada, uma vez que o cinema tem parceria com meu banco, precisa apresentar o RG... e eu não tinha lembrado disso, até a moça pedir.... ai ai.
Lá vou eu botar tudo em cima do balcão abrir minha mochila e caçar minha carteira. E começa: tira a necessaire, tira desodorante.... tira agenda, põe tudo no balcão, até achar. Ninguém pra ajudar a segurar as coisas.
Ok. Consegui.
Como já faziam horas que eu tinha almoçado e já estava com fome, decidi comprar uma pipoca e uma água. Continuava com as duas sacolas na mão esquerda e a mochila pesada nas costas. Quando a moça colocou a pipoca e a água na minha frente....
ô ôu....
Como é que eu vou segurar as sacolas, pegar a pipoca, a água, os guardanapos e ainda dar meu ingresso na porta da sala?
Enfiei as sacolas no pulso, pipoca numa mão, ingresso, guardanapo, canudo e água na outra, com muito cuidado pra garrafa molhada não molhar o papel. Ingresso colocado estrategicamente entre o dedo médio e o anelar, pra moça só puxa-lo pra checar.
Ótimo. Passos lentos, sem pressa, concentração e equilíbrio pra não derrubar a pipoca e vamos. Rezando muito pra moça não pedir pra eu apresentar meus documentos outra vez.
Quando a moça me viu chegando, já começou a rir. Ela deve estar acostumada com esse tipo de situação, porque puxou o ingresso da minha mão com muita habilidade. Eu achei que a coisa ia complicar mais um pouco, porque além de ter pegar o ingresso de volta, eu tinha que pegar os óculos 3D. Estava pensando que só me restava abrir a boca pra ela enfiar os óculos entre meus dentes, mas como eu falei, a moça deve estar tão acostumada com esse tipo de situação, porque muito habilmente, abriu meus dedos e enfiou o óculos e o ingresso ali no meio. Ah! e graças a Deus não pediu meus documentos.
Quando eu estava indo, finalmente, pra sala do filme, me ocorreu outro pensamento infeliz.... como é que eu ia fazer pra sentar na cadeira? Quero dizer, são aquelas poltronas que fecham sozinhas e você precisa da mão pra conseguir se sentar. Foi ai que eu pensei:
"MEU DEUS, MAS QUE DROGA VIR SOZINHA AO CINEMA". Me deu 2 segundos de revolta REAL. Aquele momento em que um simples pensamento vira uma tempestade e de repente uma enxurrada de pensamentos fracassados me vieram a mente.
Como o cérebro da gente é uma coisa estranha... ele faz cada coisa. Praticamente, eu podia parar no meio do corredor e abrir um berreiro frustrado e carente.
DEBORAH REGINA. SE CONTROLA. PARA DE DRAMA.
Cheguei a minha poltrona que, ainda bem, era a da ponta e do lado de um degrau alto. Coloque ali a pipoca, a água, canudo e guardanapo, tirei a mochila, finalmente me sentei e consegui me ajeitar. UFA.
Enquanto esperava a luz apagar, lutando comigo mesma pra não comer a pipoca toda antes do filme, respirei fundo e pensei que aprender a viver sozinha é preciso. Aceitar pra doer menos também é um ditado real.
Tomar decisões sozinhas, lidar sozinha com os imprevistos, desfrutar do lazer sozinha, aceitar a própria companhia, fazer comentários e dialogar consigo mesma...
E se adaptar.
Buscar receitas de bolo de caneca e matar a vontade com isso, ainda que não seja lá muito bom...
Superar a preguiça de cozinhar só pra você e ter que aprender a fazer a quantia certa pra não desperdiçar demais, sobretudo quando você é a única que está fazendo dieta, e encontrar utensílios fofos para um só, como essa cafeteira linda que eu trouxe da Itália.
Não é fácil perceber isso e ficar bem. A gente passa por umas crises. A questão não é nem tanto estar solteira ou não, mas é se encaixar, como eu falei. As pessoas com quem você cresceu tem outras prioridades agora, pensando em seus filhos e cônjuges, seguindo o curso da vida. Hoje, minhas amigas mais próximas são 3, 4 anos mais novas que eu e esses dias me peguei pensando que logo elas também vão namorar e casar e assim, eu já preciso diminuir a faixa etária das amigas. Já me imaginei sendo aquela amiga solteirona mais velha que é a que dirige e tem que dar carona para galera no dia do rolê.... quem me dera. Pois isso significaria que eu tenho um carro pelo menos....
Mas é engraçado porque ai você acaba sendo aquela amiga que já passou por aquelas situações de faculdade, conseguir trabalho, tem PHD em paixão frustrada, já amadureceu um pouco com as lambadas da vida e acaba sendo a conselheira da galera, não que eu saiba o que estou fazendo da minha vida, mas sabe, pelo menos da uma impressão de que você está sendo útil de alguma forma.
Claro que o pior é pensar no futuro, quando meus irmãos estarão todos com suas famílias, e meus pais já bem velhinhos ou depois que eles se forem.... o que será de mim? Isso causa um pouco de tristeza.
Nosso cérebro é um verdadeiro sapeca, porque não é como se minha sentença já estivesse sido traçada, mas diante do hoje, vem esse medo inadequado sobre o futuro.
Mas, eu percebo que o maior risco de viver sozinha é o de fechar-se em si mesma. Aprender a viver "sozinho" não é aprender a ser autossuficiente, fechar-se no egoísmo e no egocentrismo. É perigoso porque podemos cair no vitimismo, no eu me basto, nas minhas coisas, meu mundo e se torna muito difícil olhar para o sofrimento ao nosso redor, ter um pouco de empatia e solidariedade, fazer algo pelo outro e sobretudo, ser tolerante diante das contrariedades e das discordâncias.
Eu percebi isso porque é o que acontece comigo e parece que tem sido cada vez pior. Ultimamente, percebi que me custa um pouco mais estar com a família e as coisas não serem como eu quero, no meu tempo e no meu ritmo, enfim, e vi que o pior que pode nos acontecer não é estar fisicamente sozinho, mas sim, se fechar.
Depois do dia difícil do cinema, eu passei por outra experiência que me ajudou.
Fiz uma viagem de um final de semana para o interior do estado em função de um compromisso. Fui de ônibus, muitas horas de viagem dividida em duas partes porque não tinha um trajeto direto. Para mim, isto também é muito desconfortável pois me deixa bastante ansiosa e insegura. Claro que tem uns perrengues dos lobos solitários, como por exemplo, precisar ir ao banheiro com a mala e a mochila, ou seja, não poder pedir pra ninguém "olha minhas coisas que vou no banheiro". Só pra reforçar: BANHEIRO DE RODOVIÁRIA.
Conseguir ir e voltar em segurança, dando tudo certo e sobretudo sem ter nenhuma crise de ansiedade, para mim é uma grande vitória. Mas não foi só isso. Naquele final de semana, eu passei por uma situação que me deixou um pouco chateada, uma conversa sobre estar solteira e sobre ansiedade. Mas em seguida, uma outra pessoa veio conversar comigo sobre o Transtorno de Ansiedade, me contando tudo que ela sentia, dizendo que ela não conseguia se abrir sobre aquilo e eu simplesmente.... nossa, conversei com ela tanto quanto pude, dando a minha experiência. Aquilo me confortou tanto porque eu vi que toda minha experiencia de vida, o que eu sofro e não sofro, o que sinto e não sinto, pode estar em função de outras pessoas, de ajudar outras pessoas e é o que faz a gente feliz.
Por isso que vejo que o que pode matar e consumir nossa vida em tristeza é se fechar e olhar só pra si, pro próprio umbigo. Mas isso pode acontecer com uma pessoa casada, com uma pessoa com filhos... com muitos irmãos ao redor. Porém, o convívio com o outro nos força a sair um pouco de nós mesmos para estar bem com o outro. Ou então, fazer da vida comunitária um inferno. A paz existe quando há doação.
Assim, apesar de entender que cada um tem uma história de vida e hoje esta é a minha, que preciso seguir amadurecendo com pessoa, como mulher, me tornando uma adulta com força para lidar com as diversas situações da vida, Graças a Deus, depois de um programa de lazer comigo mesmo, posso chegar em casa e ainda encontrar minha família. Ainda podemos sentar juntos para tomar café com um bolo feito por mim! E como é bom escutar o outro, dividir experiências e conversar.
E como é bom ter amigas mais novas que confiam e você e te procuram para poder partilhar as história e pensar que os fatos da minha vida podem incentivá-las e animá-las.
E assim eu percebo que o estar sozinho é algo que não depende de ter alguém do seu lado ou não, mas depende do quanto nós estamos dispostos a nos doar. Porém não é algo tão simples, é uma luta contra nós mesmos.
Então, ai vem mais um ano. Mais idas ai cinema sozinha, mais viagens sozinhas, porém com mais oportunidades de amar e de ajudar outras pessoas.
Agora... sobre estar solteira ou não. Paz. Há momentos certos para tudo e a ansiedade e o impulso costumam gerar consequências que com certeza, preferimos evitar.
Pra finalizar, a música que deu título a este post: (uma música que eu gosto muito aliás e do clipe também... hehehe)
Eu sou casada e tenho dois filhos, mas também sinto falta de conversar não necessariamente sobre casamento e filhos. Não é porque a gente se casa que tem vontade de conversar só sobre isso! Mas muito legal seu texto, Débora, todos nós precisamos mesmo desabafar assim!
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