Quarentena dia 16 - Agora começou a doer
Finalmente fechamos 15 dias de quarentena. Ontem, o prefeito decretou mais 10 dias. Mas a gente sabe que depois destes 10, vai ter mais um pouco. Creio de 10 em 10, vão tentar manter assim até o final de abril.
Aos poucos, as coisas vão se assentando, o que não significa que elas fiquem mais fáceis. Eu ando muito esgotada. A demanda de trabalho parece muito maior, o dia passa muito rápido, parece que mais do que nunca não dá tempo de fazer tudo. Mas tudo o quê? Se o mundo está parado, estagnado, e o amanhã é tão incerto?
A relação com espaço e tempo está muito confusa. Algumas pessoas falaram pra mim que estão se sentindo muito pressionadas pelo trabalho e os estudos. Conversando com minha amiga um dia da semana passada - o dia que eu chorei de cansaço, quando estava trabalhando, com alguma carga de pressão, perto da meia noite - dizíamos que parece que está todo mundo correndo histericamente, mas sem saber pra onde. Eu analisei que, diante deste cenário apocalíptico, talvez, parar significa se entregar, assumir a derrota, sentir-se morto, afinal. A gente precisa continuar, sentir que estamos vivos, que vamos nos recuperar deste caos. Mas ninguém sabe como fazer isso direito. Os conflitos são grandes.
Eu sempre evitei trazer trabalho pra casa. Eu ligo meu modo trabalho quando saio pela manhã e desligo quando volto. Mas desde que comecei o trabalho remoto, percebi que eu fiquei muito mais ligada. Ainda bem que não tenho muita dificuldade pra me concentrar, até me sinto mais focada, rendendo mais. Mas fiquei meio obcecada, de repente. Não sabia bem hora de parar e quando parava, minha cabeça estava num looping infinito, repetindo em pensamento uma lista de coisas para fazer, um pensamento obsessivo.
No sábado passado, fiquei meio compulsiva, com os pensamentos nesta lista, tentei fazer 3 coisas ao mesmo tempo: dois trabalhos e faxina. Comecei a tremer, sentir dificuldade pra respirar e percebi que ia colapsar.
Então precisei falar pra mim mesma "BASTA".
Larguei o celular e, pela primeira vez na vida, ignorei mensagens no celular por mais de um dia. As de trabalho principalmente. Meu cérebro estava numa frequência alucinada, mas eu lutei muito com ele e nada de trabalho até segunda.
E assim tentei viver essa semana segunda semana, me auto colocando limites. Não por má vontade, mas por respeito a mim. Fico tanto tempo na frente do computador agora, mais do que o normal, que nos últimos dois dias, comecei a sentir tonturas e enjoo.
No meio do caos, a terapia. Na internet, várias pessoas relatando sintomas parecidos com o meu. Exaustão máxima. Ai comecei a entender melhor o que estava acontecendo. Li um texto que falava que fazer o "home office" é diferente de "confinamento office".
Minha psicóloga explicou muitas coisas sobre isso. Que o cérebro está bugado na rotina, na hora, no espaço. Antes, ele sabia quando era hora e dia de trabalhar, hora e dia de descansar, local de trabalho, local de descanso. Agora, ele não sabe qual é o local de trabalho e o de descanso porque isto ocorre no mesmo lugar. O mesmo se passa com as horas.
Ao mesmo tempo, o cérebro tem tido menos pausas. Antes, ele funcionava determinada quantidade de horas, pausa para almoço, para ir pra casa, para levar as crianças na escola, momento de um ressetar e preparar para a próxima etapa.
Além disso, tenho passado muito mais tempo na frente do computador e essa exposição excessiva deixa o cérebro muito mais ligado, tendo dificuldade para relaxar.
Por isto, eu tentei tirar o pé do acelerador, ignorar um pouco a cobrança, fazer algumas paradas:
Diariamente, rezamos em família, de diferentes formas, o que tem sido fundamental para o convívio e, principalmente, para não perder a Fé e a Esperança nestes tempos.
Outro dia, minha avó cortou meu cabelo. Ela foi cabeleireira durante muitos anos e sempre cuidou dos meus cabelos. Estava precisando demais cortar e a sensação foi muito boa.
Fiz um bolo de chocolate e morango pro meu irmão que fez aniversário e celebramos entre nós com a noite do hambúrguer. Tudo caseiro: pão, o hambúrguer. Um momento de gratidão e felicidade entre a família.
Vi Bohemian Rhapsody passando na TV e parei para assistir. É um dos meus filmes favoritos.
Concluí a segunda semana de quarentena fazendo algo inédito e bem irresponsável: maratonei a quarta temporada de La Casa de Papel, assistindo até às 3h30 da manhã. Nada como um pouco de inconsequência.
Aliás, que série! E esta foi a melhor temporada!
Mas a parte emocional está vacilando. Ontem eu chorei porque o sentimento dentro era de dor.
Primeiro de ver tantas pessoas morrendo mundo afora, a situação que muitos se encontram de bastante penúria... Mas também por pensar na minha própria vida, na situação da minha família, as dificuldades grandes...
Desde quinta-feira tenho sentido muita falta de estar com as outras pessoas, saudade de ir na Igreja para celebrar, da Eucaristia, de estar com os jovens da JMJ, logo agora que eu recuperava este ânimo e nem sei se vão manter a JMJ pra mesma data....
Uma saudade enorme da minha sobrinha, demais mesmo. Até de estar com meus colegas de trabalho, de ir no treino ao ar livre, de poder sair pra ir no mercado sem ficar absolutamente neurótica.
Mas hoje eu pensava " Eu acredito que Deus é meu pai amoroso, Senhor da história ou não?". E é pela graça do Senhor que é possível viver cada dia sem esmorecer, com confiança, mantendo a esperança e a paz. Mas isso é algo que Ele tem dado, às vezes mais, às vezes menos e ai, a luta é maior e eu só quero deitar e dormir por 100 anos.
Vamos dar início a terceira semana de quarentena. A semana mais especial! A mais importante: A Semana Santa!
Que possamos vivê-la como Cristo: na simplicidade, na humildade, confiante de que a vontade de Deus sempre é a melhor e a história que Ele faz é sempre perfeita. Que possamos ser consolados pela entrega apaixonada de Jesus Cristo e renovados na Sua Ressurreição!
E assim, vamos juntos!
Aos poucos, as coisas vão se assentando, o que não significa que elas fiquem mais fáceis. Eu ando muito esgotada. A demanda de trabalho parece muito maior, o dia passa muito rápido, parece que mais do que nunca não dá tempo de fazer tudo. Mas tudo o quê? Se o mundo está parado, estagnado, e o amanhã é tão incerto?
A relação com espaço e tempo está muito confusa. Algumas pessoas falaram pra mim que estão se sentindo muito pressionadas pelo trabalho e os estudos. Conversando com minha amiga um dia da semana passada - o dia que eu chorei de cansaço, quando estava trabalhando, com alguma carga de pressão, perto da meia noite - dizíamos que parece que está todo mundo correndo histericamente, mas sem saber pra onde. Eu analisei que, diante deste cenário apocalíptico, talvez, parar significa se entregar, assumir a derrota, sentir-se morto, afinal. A gente precisa continuar, sentir que estamos vivos, que vamos nos recuperar deste caos. Mas ninguém sabe como fazer isso direito. Os conflitos são grandes.
Eu sempre evitei trazer trabalho pra casa. Eu ligo meu modo trabalho quando saio pela manhã e desligo quando volto. Mas desde que comecei o trabalho remoto, percebi que eu fiquei muito mais ligada. Ainda bem que não tenho muita dificuldade pra me concentrar, até me sinto mais focada, rendendo mais. Mas fiquei meio obcecada, de repente. Não sabia bem hora de parar e quando parava, minha cabeça estava num looping infinito, repetindo em pensamento uma lista de coisas para fazer, um pensamento obsessivo.
No sábado passado, fiquei meio compulsiva, com os pensamentos nesta lista, tentei fazer 3 coisas ao mesmo tempo: dois trabalhos e faxina. Comecei a tremer, sentir dificuldade pra respirar e percebi que ia colapsar.
Então precisei falar pra mim mesma "BASTA".
Larguei o celular e, pela primeira vez na vida, ignorei mensagens no celular por mais de um dia. As de trabalho principalmente. Meu cérebro estava numa frequência alucinada, mas eu lutei muito com ele e nada de trabalho até segunda.
E assim tentei viver essa semana segunda semana, me auto colocando limites. Não por má vontade, mas por respeito a mim. Fico tanto tempo na frente do computador agora, mais do que o normal, que nos últimos dois dias, comecei a sentir tonturas e enjoo.
No meio do caos, a terapia. Na internet, várias pessoas relatando sintomas parecidos com o meu. Exaustão máxima. Ai comecei a entender melhor o que estava acontecendo. Li um texto que falava que fazer o "home office" é diferente de "confinamento office".
Minha psicóloga explicou muitas coisas sobre isso. Que o cérebro está bugado na rotina, na hora, no espaço. Antes, ele sabia quando era hora e dia de trabalhar, hora e dia de descansar, local de trabalho, local de descanso. Agora, ele não sabe qual é o local de trabalho e o de descanso porque isto ocorre no mesmo lugar. O mesmo se passa com as horas.
Ao mesmo tempo, o cérebro tem tido menos pausas. Antes, ele funcionava determinada quantidade de horas, pausa para almoço, para ir pra casa, para levar as crianças na escola, momento de um ressetar e preparar para a próxima etapa.
Além disso, tenho passado muito mais tempo na frente do computador e essa exposição excessiva deixa o cérebro muito mais ligado, tendo dificuldade para relaxar.
OU SEJA
COLAPSO
Por isto, eu tentei tirar o pé do acelerador, ignorar um pouco a cobrança, fazer algumas paradas:
Diariamente, rezamos em família, de diferentes formas, o que tem sido fundamental para o convívio e, principalmente, para não perder a Fé e a Esperança nestes tempos.
Outro dia, minha avó cortou meu cabelo. Ela foi cabeleireira durante muitos anos e sempre cuidou dos meus cabelos. Estava precisando demais cortar e a sensação foi muito boa.
Fiz um bolo de chocolate e morango pro meu irmão que fez aniversário e celebramos entre nós com a noite do hambúrguer. Tudo caseiro: pão, o hambúrguer. Um momento de gratidão e felicidade entre a família.
Vi Bohemian Rhapsody passando na TV e parei para assistir. É um dos meus filmes favoritos.
Concluí a segunda semana de quarentena fazendo algo inédito e bem irresponsável: maratonei a quarta temporada de La Casa de Papel, assistindo até às 3h30 da manhã. Nada como um pouco de inconsequência.
Aliás, que série! E esta foi a melhor temporada!
![]() |
Eu mesma nestes tempos! |
Mas a parte emocional está vacilando. Ontem eu chorei porque o sentimento dentro era de dor.
Primeiro de ver tantas pessoas morrendo mundo afora, a situação que muitos se encontram de bastante penúria... Mas também por pensar na minha própria vida, na situação da minha família, as dificuldades grandes...
Desde quinta-feira tenho sentido muita falta de estar com as outras pessoas, saudade de ir na Igreja para celebrar, da Eucaristia, de estar com os jovens da JMJ, logo agora que eu recuperava este ânimo e nem sei se vão manter a JMJ pra mesma data....
Uma saudade enorme da minha sobrinha, demais mesmo. Até de estar com meus colegas de trabalho, de ir no treino ao ar livre, de poder sair pra ir no mercado sem ficar absolutamente neurótica.
Mas hoje eu pensava " Eu acredito que Deus é meu pai amoroso, Senhor da história ou não?". E é pela graça do Senhor que é possível viver cada dia sem esmorecer, com confiança, mantendo a esperança e a paz. Mas isso é algo que Ele tem dado, às vezes mais, às vezes menos e ai, a luta é maior e eu só quero deitar e dormir por 100 anos.
Vamos dar início a terceira semana de quarentena. A semana mais especial! A mais importante: A Semana Santa!
Que possamos vivê-la como Cristo: na simplicidade, na humildade, confiante de que a vontade de Deus sempre é a melhor e a história que Ele faz é sempre perfeita. Que possamos ser consolados pela entrega apaixonada de Jesus Cristo e renovados na Sua Ressurreição!
E assim, vamos juntos!
Comentários
Postar um comentário