Quarentena dia 20 - Vamo que vamo

Quando acabar a quarentena, eu vou precisar de uma quarentena de férias. Cada semana é mais corrida do que a outra!! Eu continuo fazendo meu exercício mental de não me deixar sobrecarregar na ânsia de fazer tudo. Já falei, parece que o mundo ta querendo subir correndo uma escada rolante que desce....
Tento focar em uma atividade por vez e, quando não dá mais, não dá, paciência.
Existe um sentimento estranho dentro..... É difícil expressar, como se eu não soubesse bem o que sinto.

Essa semana precisei sair várias vezes, para coisas essenciais, juro! Mas como tudo tá meio caótico, não conseguia resolver tudo de uma vez. Por exemplo, precisei ir em três lugares para finalmente poder achar um caixa eletrônico funcionando!

Cada vez que eu saio de casa, penso "vamos para o campo de batalha". Há todo um preparo e na rua é um estado constante de alarme, aquele inimigo invisível que fica ali de tocaia e parece que vai te dar um tiro nas costas a qualquer momento. Pode se esconder em qualquer pessoa que passa por você, pode estar nos muros, nas árvores, em cada ser animado e inanimado. Tudo e todos são suspeitos e eu vou desviando como posso, sempre atenta.

Mas o pior é que agora, eu me pego.... julgando e fazendo cara feia pra quem não desvia de mim nos lugares, e pior ainda se a pessoa tosse ou espirra sem cobrir o rosto, ou ainda coça os olhos, ou sai pondo a mão em tudo sem necessidade. Sinto-me péssima por conta disso e tento sempre me corrigir.

Hoje também me questionei se esse medo vai ser crônico, quero dizer, se vamos criar um afastamento crônico das pessoas... ou então esse medo de encostar em qualquer coisa. O que vocês acham?

Como sempre, nesta quinta-santa, trabalhei bastante, cortei as unhas do pé com o maior cuidado.... Eu sempre tive muito problema com unha encravada, uma vez passei numa podóloga açougueira que olha... fui com um canto inflamado, acabei com os quatro infeccionados. No fim, fiquei um bom tempo numa inflamação meio crônica até que achei uma excelente podóloga que transformou meu pezinho e eu nunca mais soube o que era dor nos cantos dos dedos. Aliás, meus dedos até diminuíram de tamanho se vocês querem saber.... ENFIM, jurei pra mim mesma que nunca mais ninguém, a não ser a podóloga iria mexer no meu pé, isso me incluía. Tá vendo por que não podemos jurar?

Em seguida, fui atrás de caixa eletrônico, A PÉ. Esta quinta foi mais fria, mas com um sol maravilhoso! Foi uma boa caminhada, a primeira desde que tudo começou, e eu me senti muito bem. A rua ficava bem vazia de pessoas e me senti segura. Estava tão distraída que acabei até fazendo o caminho errado, mas procurei andar sem pressa, aproveitando o momento.

Faz quase três semanas que eu não sei o que é sentir o sol na pele. Engraçado é que eu vivo de sombrinha pra cima e pra baixo, porque não gosto nada de sol, mas hoje a sensação foi boa. APESAR que.... eu reparei que talvez, essa quarentena possibilite algo que eu nunca vi... ter o tom da minha pele uniforme.... porque quem vê meu braço e minha perna, por exemplo, não acredita que se tratem da mesma pessoa. Meus braços são bem bronzeados quando coloco perto da barriga cor de leite e eu vivo com marca de roupas diferentes pelo corpo.
Mas percebi que essas marcas tão sumindo e até que to gostando.... por isso, mesmo assim.... hehehehehe, passei protetor solar pra sair.


Então, cheguei no banco. Encarar a porta e tentar não tocar em nada nem em ninguém. Ok. Mas ai.................... o caixa eletrônico...


Eu podia ver aquele caixa impregnado de coronavírus. Ok, Respira. Calma. Vamos teclar com o dedo mindinho, porque é um dedo menos usado e a chance de você fazê-lo chegar nas suas vias respiratórias é menor. Isso, genial. Segurança

PORÉM

Para realizar a operação ele pede a digital e............. tem que ser o indicador.................................................................................................................................

Me rendi. Ok. Vamos lá. Operação completada, sair rapidinho, desviando, opa, AR LIVRE NOVAMENTE!.
Tirei da bolsa minha super arma e coloquei álcool em gel na mão sem dó, esfreguei.

Sabe qual o problema? É que eu mutilo meus dedos e quando estou mais ansiosa, é pior. Ou seja, estou com vários dedos em carne viva, sangrando e tudo o mais. Taco aquele monte de álcool e.... arde pra caramba,
Mas se for pra ficar longe do cornounavairus, eu suporto.

Depois, passei na casa de um irmão da comunidade deixar uma coisa e foi muito estranho não abraçá-lo ao encontrá-lo. E deu bastante vontade de abraçar. Mas acho que o mais difícil foi dizer "uma boa Páscoa para vocês" na hora de ir embora.....

Passei o dia hoje com muita tensão no corpo e um sentimento muito estranho no coração. Mas é impressionante como o Senhor é criativo, cheio de amor e luz no meio do caos. Vivendo uma Páscoa totalmente diferente, Ele nos consola tanto ao permitir, pela primeira vez na vida, viver o lava-pés em casa, na Igreja comunidade doméstica. Tudo muito simples, muito digno, mas muito forte.

Tudo que tem acontecido tem se calado no meu coração de uma forma que ainda não consigo traduzir em palavras. Mas por hoje, posso dizer Dayenú.


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