Quarentena dia 2 - O primeiro domingo
Quando acordei, pouco depois das nove, parecia apenas mais um domingo normal. Aquela preguiça de levantar da cama, considerando a possibilidade de dormir mais um pouco...
Sempre que possível, especialmente nos dias em que não vou trabalhar, gosto de tomar café da manhã com meu pais. Sou a única que minha mãe chama quando coloca o café no fogo.
Pensando se iria dormir mais ou não, apurei meus ouvidos para saber se havia já movimento na casa ou todos ainda estavam dormindo... Na minha cabeça, só havia esta questão e mais nenhuma relacionada com o fim do mundo. Mas ai... ouvi o portão da garagem abrindo.
"Que estranho, meu pai saindo essa hora? será que ele foi comprar pão?", pensei...
Então, o choque de realidade. Coronavírus, quarentena, grupo de risco. Meu pai saindo, sendo que combinamos que só eu sairia. Pronto, mal acordei e já começava ter uma crise de ansiedade. Queria pular da cama e berrar pela casa. Não sabia se meu pai estava saindo ou voltando.
"Auto controle. Deborah Regina". Se meu pai estivesse saindo, eu não ia conseguir segurar. Se estivesse voltando, pronto, já era.
Fiquei uns segundos na cama respirando fundo. Tinha um dia inteiro pela frente, não podia começar surtando. Mais calma, mas não com menos raiva, peguei o celular e logo de cara alguém me enviava uma notícia bem ruim sobre o mundo.... vi alguma notícia sobre o Brasil e começou de novo.... coração acelerado, falta de ar.... BASTA. Naquele momento decidi que hoje, domingo, não iria ver notícia nenhuma. Não preciso ver. Sei que as pessoas no mundo afora estão sofrendo demais, sei que a previsão é péssima, sei que os números de casos confirmados de coronavírus no nosso país vai disparar a cada dia. Sei o que preciso fazer. Ficar em casa, higiene, tentar controlar a galera do grupo de risco aqui. Não preciso consumir toneladas de notícias que só vão alimentar minha ansiedade para saber da realidade.
Pouco tempo depois, minha mãe apareceu no quarto, muito tranquila, avisando que o café estava no fogo. Eu, tentando não ficar histérica, disse:
"Mãe, o pai saiu....."
"Nós saímos", respondeu ela com um sorriso quase travesso. "A gente fugiu".
Me rendi. Não ia adiantar. Ela continuou de um jeito mais sério.
"Filha, eu precisava abastecer nossa casa pra semana, coisas que eu precisava ver e rápido. Eu não queria ir, mas era preciso. O mercado estava vazio, eles estavam higienizando nossas mãos e os carrinhos, fomos bem rápido, ja me lavei e já troquei de roupa".
Não falei mais nada. Minha mente disparou imaginando alguém começando a manifestar sintmoas nos próximos dias. Mas eu não podia fazer aquilo. Precisava calar minha mente e viver o agora. Já é impossível, normalmente, ter controle sobre a vida, agora então numa situação descontrolada, impossível eu querer garantir qualquer coisa. Vamos ter que nos adaptar a este momento inédito.
Mas não poupei discurso no café da manhã. Olha, não que meus pais não achem a coisa séria.... mas minha mãe realmente fez um abastecimento para esta semana. Minha ida na sexta foi pra pouca coisa realmente.
Como eu falei, temos que nos adaptar...
Depois, pareceu um dia bem normal. Todos nos afastamos das notícias, o que eu achei que foi uma excelente ideia. Rezamos as laudes sem pressa. Lembramos do Povo de Israel caminhando no deserto, orgulhoso, teimoso, murmurando.... e o Senhor mandou umas pequenas serpetinhas que davam uma picadinha no calcanhar do povo e eles morriam. Então, Moisés construiu a serpente de bronze e quem olhasse para ela, seria salvo. A serpete de bronze que prefigura a cruz de Cristo.
O mundo anulou Deus.... vem um virusinho de nada que faz um estrago danado. Mas ali está Cristo para salvar a todos. Não vou discorrer mais sobre este assunto, mas que está lendo e tem a fé pode pensar um pouco sobre isto.
Não é surreal pensar que um micro-organismo que pode ser eliminado com uma coisa tão simples como água, sabão e desinfetante, possa nos matar?
De domingo, raramente saímos de casa de qualquer forma. Ficamos cada um largado na frente de uma tela, comendo bastante. E basicamente foi o que aconteceu hoje. Almoçamos e todo mundo tentou descansar um pouco, não o corpo, mas a mente.
Eu estava vendendo pão de mel e, agora, diante da paralisação mundial, fico com bastante ingrediente estocado que logo vão estragar se a gente não consumir. Então fiz um delicioso bolo de churros! Realmente delicioso!
Depois fiz algumas coisas aleatórias e resolvi assistir um filme. Amor em obras, da Netflix. Olha, confesso que parece quase um insulto assistir uma comédia romântica no meio desse caos, pensando em tantas pessoas que estão morrendo, no sofrimento todo que tantos estão passando. Mas se eu viver os próximos dias mergulhada nisso, sobrevivo à pandemia e quando passar, precisarei de internação em uma clínica para recuperação psicológica.
Aliás, um filminho bem leve, mamão com açúcar, previsível, roteiro fraco. Porém, ri em algumas partes e no meio do apocalipse, deixei minha mente divagar pela raiva de constatar que a vida não é mesmo um filme, que não existem esses romances perfeitos etc etc etc. Claro que me senti bem ridícula depois, considerando que, diante da paralisação mundial e minha clausura em casa, o projeto "vocação" tá mais adiado do que nunca. E na verdade, diante do tanto de gente que está sofrendo por coisas muito mais séria, é ridículo me preocupar com algo assim.
Quero dizer, eu imaginava que um romance no apocalipse seria, sei lá, eu salvando meu amor, meu amor me salvando, a gente trocando nossas últimas delcarações de amor.... assim, como nos filmes. Que geralmente acabam bem, com os dois sobrevivendo, o amor mais forte do que nunca, a vida na terra recomeçando e eles garantindo a perpetuação da humanidade. Só que, apesar disso parecer um filme, é vida real.
Enfim.
Melhor eu parar de divagar que amanhã tenho sim que trabalhar, levantar às 6h, no horário normal e vida normal na medida do possível.
Sempre que possível, especialmente nos dias em que não vou trabalhar, gosto de tomar café da manhã com meu pais. Sou a única que minha mãe chama quando coloca o café no fogo.
Pensando se iria dormir mais ou não, apurei meus ouvidos para saber se havia já movimento na casa ou todos ainda estavam dormindo... Na minha cabeça, só havia esta questão e mais nenhuma relacionada com o fim do mundo. Mas ai... ouvi o portão da garagem abrindo.
"Que estranho, meu pai saindo essa hora? será que ele foi comprar pão?", pensei...
Então, o choque de realidade. Coronavírus, quarentena, grupo de risco. Meu pai saindo, sendo que combinamos que só eu sairia. Pronto, mal acordei e já começava ter uma crise de ansiedade. Queria pular da cama e berrar pela casa. Não sabia se meu pai estava saindo ou voltando.
"Auto controle. Deborah Regina". Se meu pai estivesse saindo, eu não ia conseguir segurar. Se estivesse voltando, pronto, já era.
Fiquei uns segundos na cama respirando fundo. Tinha um dia inteiro pela frente, não podia começar surtando. Mais calma, mas não com menos raiva, peguei o celular e logo de cara alguém me enviava uma notícia bem ruim sobre o mundo.... vi alguma notícia sobre o Brasil e começou de novo.... coração acelerado, falta de ar.... BASTA. Naquele momento decidi que hoje, domingo, não iria ver notícia nenhuma. Não preciso ver. Sei que as pessoas no mundo afora estão sofrendo demais, sei que a previsão é péssima, sei que os números de casos confirmados de coronavírus no nosso país vai disparar a cada dia. Sei o que preciso fazer. Ficar em casa, higiene, tentar controlar a galera do grupo de risco aqui. Não preciso consumir toneladas de notícias que só vão alimentar minha ansiedade para saber da realidade.
Pouco tempo depois, minha mãe apareceu no quarto, muito tranquila, avisando que o café estava no fogo. Eu, tentando não ficar histérica, disse:
"Mãe, o pai saiu....."
"Nós saímos", respondeu ela com um sorriso quase travesso. "A gente fugiu".
Me rendi. Não ia adiantar. Ela continuou de um jeito mais sério.
"Filha, eu precisava abastecer nossa casa pra semana, coisas que eu precisava ver e rápido. Eu não queria ir, mas era preciso. O mercado estava vazio, eles estavam higienizando nossas mãos e os carrinhos, fomos bem rápido, ja me lavei e já troquei de roupa".
Não falei mais nada. Minha mente disparou imaginando alguém começando a manifestar sintmoas nos próximos dias. Mas eu não podia fazer aquilo. Precisava calar minha mente e viver o agora. Já é impossível, normalmente, ter controle sobre a vida, agora então numa situação descontrolada, impossível eu querer garantir qualquer coisa. Vamos ter que nos adaptar a este momento inédito.
Mas não poupei discurso no café da manhã. Olha, não que meus pais não achem a coisa séria.... mas minha mãe realmente fez um abastecimento para esta semana. Minha ida na sexta foi pra pouca coisa realmente.
Como eu falei, temos que nos adaptar...
Depois, pareceu um dia bem normal. Todos nos afastamos das notícias, o que eu achei que foi uma excelente ideia. Rezamos as laudes sem pressa. Lembramos do Povo de Israel caminhando no deserto, orgulhoso, teimoso, murmurando.... e o Senhor mandou umas pequenas serpetinhas que davam uma picadinha no calcanhar do povo e eles morriam. Então, Moisés construiu a serpente de bronze e quem olhasse para ela, seria salvo. A serpete de bronze que prefigura a cruz de Cristo.
O mundo anulou Deus.... vem um virusinho de nada que faz um estrago danado. Mas ali está Cristo para salvar a todos. Não vou discorrer mais sobre este assunto, mas que está lendo e tem a fé pode pensar um pouco sobre isto.
Não é surreal pensar que um micro-organismo que pode ser eliminado com uma coisa tão simples como água, sabão e desinfetante, possa nos matar?
De domingo, raramente saímos de casa de qualquer forma. Ficamos cada um largado na frente de uma tela, comendo bastante. E basicamente foi o que aconteceu hoje. Almoçamos e todo mundo tentou descansar um pouco, não o corpo, mas a mente.
Eu estava vendendo pão de mel e, agora, diante da paralisação mundial, fico com bastante ingrediente estocado que logo vão estragar se a gente não consumir. Então fiz um delicioso bolo de churros! Realmente delicioso!
Depois fiz algumas coisas aleatórias e resolvi assistir um filme. Amor em obras, da Netflix. Olha, confesso que parece quase um insulto assistir uma comédia romântica no meio desse caos, pensando em tantas pessoas que estão morrendo, no sofrimento todo que tantos estão passando. Mas se eu viver os próximos dias mergulhada nisso, sobrevivo à pandemia e quando passar, precisarei de internação em uma clínica para recuperação psicológica.
Aliás, um filminho bem leve, mamão com açúcar, previsível, roteiro fraco. Porém, ri em algumas partes e no meio do apocalipse, deixei minha mente divagar pela raiva de constatar que a vida não é mesmo um filme, que não existem esses romances perfeitos etc etc etc. Claro que me senti bem ridícula depois, considerando que, diante da paralisação mundial e minha clausura em casa, o projeto "vocação" tá mais adiado do que nunca. E na verdade, diante do tanto de gente que está sofrendo por coisas muito mais séria, é ridículo me preocupar com algo assim.
Quero dizer, eu imaginava que um romance no apocalipse seria, sei lá, eu salvando meu amor, meu amor me salvando, a gente trocando nossas últimas delcarações de amor.... assim, como nos filmes. Que geralmente acabam bem, com os dois sobrevivendo, o amor mais forte do que nunca, a vida na terra recomeçando e eles garantindo a perpetuação da humanidade. Só que, apesar disso parecer um filme, é vida real.
Enfim.
Melhor eu parar de divagar que amanhã tenho sim que trabalhar, levantar às 6h, no horário normal e vida normal na medida do possível.
Comentários
Postar um comentário