Amoris laetitia - encontrar a vocação #3

Continuação do meu comentário sobre Amoris Laetitia (A Alegria do Amor) - Sobre o Amor na Família, a 3ª Exortação Apostólica do Papa Francisco publicada em 8 de abril de 2016. Ela foi escrita tendo como base o Sínodo dos Bispos sobre a Família realizado entre 2014 e 2015. 







Ser família

Vamos começar hoje destacando um trecho que é especialmente para aquelas pessoas que compartilharam notícias como se o Papa Francisco fosse aberto ao casamento entre pessoas do mesmo sexo:

“Devemos reconhecer a grande variedade de situações familiares que podem fornecer uma certa regra de vida, mas as uniões de fato ou entre pessoas do mesmo sexo, por exemplo, não podem ser simplesmente equiparadas ao matrimônio. Nenhuma união precária ou fechada à transmissão da vida garante o futuro da sociedade. E, todavia, quem se preocupa hoje com fortalecer os cônjuges, ajudá-los a superar os riscos que os ameaçam, acompanhá-los no seu papel educativo, incentivar a estabilidade da união conjugal? Em vários países, a legislação facilita o avanço de várias alternativas, de modo que um matrimônio com as características de exclusividade, indissolubilidade e abertura à vida acaba por aparecer como mais uma proposta antiquada entre muitas outras.” 

Ou seja… o Papa afirma que não pode existir um casamento, um matrimonio e nem uma verdadeira família que não seja a que comece entre um homem e uma mulher, legitimamente unidos. A questão aqui não é ficar discutindo que famílias “monoparentais”, que o Papa diz que são famílias feridas, ou “famílias” formadas por “casais” do mesmo sexo possam amar mais ou menos, cuidar melhor ou pior de uma crianças, etc. O que eu quero mostrar aqui é o que o Papa afirma sobre o que é ser uma família e ele é categórico ao dizer que um casal homossexual não pode ser um matrimonio e nem uma família.

E por ser, na verdade, uma questão muito simples e óbvia, este é o único trecho em que o Papa fala diretamente sobre uniões homo afetivas… por tanto, você que compartilhou notícias da Folha, G1 e Estadão achando que Amoris laetitia só se trata sobre “novos” modelos de família e que o Papa estava aberto a isso… bom, só posso dizer que sinto muito.

Então, uma vez começado este assunto, o Papa Francisco vai falar sobre a ideologia de gênero que “nega a diferença e a reciprocidade natural de homem e mulher. Prevê uma sociedade sem diferenças de sexo, e esvazia a base antropológica da família. Esta ideologia leva a projetos educativos e diretrizes legislativas que promovem uma identidade pessoal e uma intimidade afetiva radicalmente desvinculadas da diversidade biológica entre homem e mulher. Preocupa o fato de algumas ideologias deste tipo, que pretendem dar resposta a certas aspirações por vezes compreensíveis, procurarem impor-se como pensamento único que determina até mesmo a educação das crianças.”
“Uma coisa é compreender a fragilidade humana ou a complexidade da vida, e outra é aceitar ideologias que pretendem dividir em dois os aspectos inseparáveis da realidade. Não caiamos no pecado de pretender substituir-nos ao Criador. Somos criaturas, não somos omnipotentes. A criação precede-nos e deve ser recebida como um dom.” Chama a atenção isso que o Papa fala… a criação precede-nos e fomos criados homem e mulher, portanto, querer atentar contra isso não é algo natural, mas vai contra o Projeto de Deus para a humanidade.

Falando sobre a família, as palavras do Papa são muito tocantes, pois ele mostra a beleza da matrimônio que é a beleza do amor de Deus. O Papa é muito realista, ele não fala de uma família perfeita, de um amor romântico de filme, mas de um amor real, provado no fogo dos sofrimentos diários, mas que encontra sempre um meio, uma forma criativa de se renovar, manter a juventude e a alegria. O matrimônio é um Dom de Deus que todos devem cuidar e preservar.

“«Jesus, que reconciliou em Si todas as coisas, voltou a levar o matrimônio e a família à sua forma original (cf. Mc 10, 1-12). A família e o matrimônio foram redimidos por Cristo (cf. Ef 5, 21-32), restaurados à imagem da Santíssima Trindade, mistério donde brota todo o amor verdadeiro. A aliança esponsal, inaugurada na criação e revelada na história da salvação, recebe a revelação plena do seu significado em Cristo e na sua Igreja. O matrimônio e a família recebem de Cristo, através da Igreja, a graça necessária para testemunhar o amor de Deus e viver a vida de comunhão”.

O Papa destaca também a família como Igreja Doméstica. Uma vez que Cristo vem ao encontro dos esposos no sacramento do matrimônio, estes se tornam edificadores do Corpo Místico de Cristo. Eles são chamados a se doarem um ao outro, na mesma relação que tem entre Cristo e a Igreja. São chamados a educarem os filhos na Fé, sendo os pais os primeiros catequistas.

O amor na família também é o retrato da Santíssima Trindade. Quando Jesus foi até o Rio Jordão para ser batizado, a voz de Deus ressoou dizendo “este é meu filho amado” e neste amor está o Espírito Santo. “Na família humana, reunida em Cristo, é restaurada a “imagem e semelhança” da Santíssima Trindade (cf. Gn 1, 26), mistério donde brota todo o amor verdadeiro.”

“O sacramento do matrimônio não é uma convenção social, um rito vazio ou o mero sinal externo dum compromisso. O sacramento é um dom para a santificação e a salvação dos esposos, porque « a sua pertença recíproca é a representação real, através do sinal sacramental, da mesma relação de Cristo com a Igreja. Os esposos são, portanto, para a Igreja a lembrança permanente daquilo que aconteceu na cruz; são um para o outro, e para os filhos, testemunhas da salvação, da qual o sacramento os faz participar»”

Através do sacramento, Cristo se faz presente sempre e para sempre na vida dos esposos e na vida da família. É essa presença que permite aos esposos se levantarem após as quedas, se perdoarem mutuamente e carregarem o fardo um do outro. Ou seja, é quase impossível sustentar um casamento que não tenha Cristo como alicerce, por isso, a missão das famílias que Deus já chamou a serem Cristãs é testemunhar o Evangelho para que esses possam converter outras pessoas e essas, através deste encontro com o amor de Deus e com a iniciação cristã possam formar novas famílias que não se desfaçam diante das dificuldades.

Mas o Papa não exalta só a família Cristã como se os casos “irregulares” devam ser excluídos da Igreja como se estivesse a margem do amor de Deus. Ele também olha com misericórdia para as famílias feridas que devem ser acolhidas e fazer parte da vida da Igreja, se assim desejarem: 

“«O olhar de Cristo, cuja luz ilumina todo o homem (cf. Jo 1, 9; Gaudium et spes, 22), inspira o cuidado pastoral da Igreja pelos fiéis que simplesmente vivem juntos, que contraíram matrimónio apenas civil ou são divorciados que voltaram a casar. Na perspectiva da pedagogia divina, a Igreja olha com amor para aqueles que participam de modo imperfeito na vida dela: com eles, invoca a graça da conversão; encoraja-os a fazerem o bem, a cuidarem com amor um do outro e colocarem-se ao serviço da comunidade onde vivem e trabalham. (...) Quando a união alcança uma estabilidade notável por meio dum vínculo público e se reveste de afeto profundo, responsabilidade pela prole, capacidade de superar as provações, pode ser vista como uma oportunidade a encaminhar para o sacramento do matrimônio, sempre que este seja possível».
«Perante situações difíceis e famílias feridas, é preciso lembrar sempre um princípio geral: Saibam os pastores que, por amor à verdade, estão obrigados a discernir bem as situações” (Familiaris consortio, 84). O grau de responsabilidade não é igual em todos os casos, e podem existir fatores que limitem a capacidade de decisão. Por isso, ao mesmo tempo que se exprime com clareza a doutrina, há que evitar juízos que não tenham em conta a complexidade das diferentes situações, e é preciso estar atentos ao modo como as pessoas vivem e sofrem por causa da sua condição»”


Ou seja, não existe uma condenação, mas um encorajamento e uma palavra de misericórdia para todas as famílias, afinal todos que estamos no mundo nascemos de uma mãe e de um pai e temos registrado na nossa alma essa ligação parental que clama por ternura e amor. Por isso, aqueles que não puderam viver o amor de pai e mãe que deram a eles, biologicamente a vida, trazem em si feridas que refletem em toda a sua vida. Da mesma forma como aqueles homens e mulheres que passaram por sofrimentos dolorosos pelo abandono, traição, frieza e dureza dos cônjuges. Todos somos pecadores, todos somos passíveis de cometer erros que sempre provocam consequências dolorosas nas outras pessoas e ainda mais em nós mesmo.

A Igreja sabe disso, Deus sabe disso e por isso nos dá Jesus Cristo que tem uma Misericórdia infinita e deseja que todos possam mergulhar nesta Misericórdia e possam ter suas vidas reconstruídas. por isso, jamais haverá condenação por parte da Igreja de qualquer pessoa que seja, mas, como já disse, a verdade sempre deve ser anunciada e aqueles que a acolherem, poderão experimentar uma vida nova na Alegria e no amor, o que refletirá na vida da família e de toda a sociedade.

Continua no próximo post.


Obs.: Embora eu não tenha colocado as referencias devidamente, todos os trechos em negrito e itálico foram copiados da Exortação Apostólica Amoris laetitia.






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