Amoris laetitia - encontrar a vocação #4

Continuação das postagens sobre Amoris Laetitia (A Alegria do Amor) - Sobre o Amor na Família, a 3ª Exortação Apostólica do Papa Francisco publicada em 8 de abril de 2016. Ela foi escrita tendo como base o Sínodo dos Bispos sobre a Família realizado entre 2014 e 2015.



                                                         





Exortação

A exortação Apostólica sobre o Amor na Família é de uma riqueza enorme e nos toca profundamente. Aqui no blog eu dei pequenas pinceladas para que vocês tivessem um vislumbre do que realmente se trata. Deixei de lado muitas coisas essenciais e importantes, por isso espero que todos os jovens que estão indo a JMJ possam ler esse documento e meditar seriamente no coração sobre essa vocação e perceber que ela é tão seria quanto o chamado ao sacerdócio ou a vida religiosa. 

As vezes escuto pessoas dizendo: “nossa, mas para ser padre ou freira precisa mesmo de muita coragem… só por Deus”. Temos a tendencia de diminuir a vocação matrimonial como se fosse mais fácil ou menos importante. Mas não! Para se casar e assumir isso como um compromisso para toda a vida, aceitar acolher os filhos, escolher amar a cada dia é necessário muita coragem e buscar em Cristo a sustentação da vocação! Eu diria que a vocação matrimonial é a mais importante, pois dela deriva todas as outras vocações.

E a todos, mesmo os que não estão peregrinando, penso que este livro deva ser um livro de cabeceira que deva ser meditado em todos os momentos como uma ajuda para que possamo viver mais perfeitamente o amor a que fomos chamados.

E aqueles que não entendem a Igreja e julgam-na retrógrada e tudo o mais, aconselho a ler o texto atentamente, pois ali o Papa Francisco explica de fato o significado de tudo não como algo arbitrário, imposto aos batizados, mas como algo dado para a salvação dos homens que pode começar a ser sentida ainda nesta terra.

A Educação dos Filhos

A última parte que quero destacar é o capítulo sobre a educação dos filhos. Hoje, muitos pais parecem perdidos na educação dos filhos diante de toda a informação a que estão expostos. Os pais, imersos no mundo do trabalho, sem tempo para as crianças, acabam substituindo educação por mimos para compensar a ausência e acabam deixando na mão de outros, especialmente da escola, esta função. Vejamos um pouco o que o Papa fala sobre os filhos e sobre educá-los.

Desde muito cedo, as crianças já são bombardeadas de informação. Existe a TV com os programas educativos, então existem os pais vendo a TV com programas adultos (jornais, novelas, programas de auditório, filmes, documentários) com os filhos na sala. Aparentemente, as crianças estão distraídas brincando no tapete, mas sabemos que os ouvidos delas estão bem atentos. 

Hoje em dia não é incomum ver uma crianças de 1 ou 2 anos chorando e o pai dando um celular ou um tablet pra ela brincar. Uma crianças de três anos mexe melhor num celular do que a minha mãe. Aliás, aos três anos, meu irmão mais novo já dava um banho nos irmãos mais velhos no vídeo game. 

Também há a escola que utiliza cada vez mais da tecnologia para ensinar. Ou seja, nossos pequenos recebem tempestades de informações desde bebês. E pior, em cada lugar um tipo de informação, um ensinamento diferente. Por isso, educar os filhos é um grande desafio para os pais que tem o “dever gravíssimo” e “direito primário” nesta educação.

“Não é apenas um encargo ou um peso, mas também um direito essencial e insubstituível que estão chamados a defender e que ninguém deveria pretender tirar-lhes.”
Neste ponto, penso ser importante destacar que cada um tem o seu lugar na educação. É muito comum hoje, e posso dizer por experiência, encontrar professores que dizem aos alunos de maneira bastante clara que a educação que eles têm recebido dos pais é errada, sobretudo aqueles que recebem uma educação na Fé. Eu passei por isso na minha vida escolar e meus irmãos também passam. Alguns professores são bastante ofensivos neste ponto, sem respeitar os pais dos alunos e a educação que recebem em casa. Não é proibido conversar e aconselhar os jovens estudantes, mas há um limite que deve ser respeitado e caso o professor veja algo que para ele não está bem, não deve dizer ao aluno, mas chamar os pais para uma conversa particular.

“O Estado oferece um serviço educativo de maneira subsidiária, acompanhando a função não-delegável dos pais, que têm direito de poder escolher livremente o tipo de educação – acessível e de qualidade – que querem dar aos seus filhos, de acordo com as suas convições. A escola não substitui os pais; serve-lhes de complemento. Este é um princípio básico: « qualquer outro participante no processo educativo não pode operar senão em nome dos pais, com o seu consenso e, em certa media, até mesmo por seu encargo». Infelizmente, « abriu-se uma fenda entre família e sociedade, entre família e escola; hoje, o pacto educativo quebrou-se; e, assim, a aliança educativa da sociedade com a família entrou em crise ».”

Penso que o diálogo de um modo geral tem diminuído. Nem todas as escolas são abertas ao diálogo com os pais e muitos pais não se preocupam em buscar esse diálogo. O problema começa já em casa em que não há conversa entre pais e filhos, logo, muitos não sabem o que realmente acontece na escola.


A Vida é um Dom

Toda vida que concebida é um Dom de Deus: “A gravidez é um período difícil, mas também um tempo maravilhoso. A mãe colabora com Deus, para que se verifique o milagre duma nova vida. A maternidade surge duma «particular potencialidade do organismo feminino, que, com a sua peculiaridade criadora, serve para a concepção e a geração do ser humano». Cada mulher participa do «mistério da criação, que se renova na geração humana »”

Essa nova vida é uma criatura de Deus que Ele quer que seja seu filho e para essa Missão precisa da colaboração dos pais. Neste sentido, o Papa diz algo muito especial que me tocou profundamente e eu nunca tinha parado para pensar: Deus concede aos pais a liberdade de escolher um nome para a criança… um nome com o qual Ele próprio chamará seus filhos por toda a eternidade! Quanta beleza há nessa relação da família com Deus! Cada um de nós somos um projeto de Deus Pai e do seu amor eterno: “Cada criança está no coração de Deus desde sempre e, no momento em que é concebida, realiza-se o sonho eterno do Criador. Pensemos quanto vale o embrião, desde que é concebido! É preciso contemplá-lo com este olhar amoroso do Pai, que vê para além de toda a aparência."

Existe um trecho do texto que não tem outra forma, a não ser colar aqui e não é necessário dizer mais nada:

“Toda a criança tem direito a receber o amor de uma mãe e de um pai, ambos necessários para o seu amadurecimento íntegro e harmonioso. Como disseram os bispos da Austrália, ambos « contribuem, cada um à sua maneira, para o crescimento duma criança. Respeitar a dignidade duma criança significa afirmar a sua necessidade e o seu direito natural a ter uma mãe e um pai». Não se trata apenas do amor do pai e da mãe separadamente, mas também do amor entre eles, captado como fonte da própria existência, como ninho acolhedor e como fundamento da família. Caso contrário, o filho parece reduzir-se a uma posse caprichosa. Ambos, homem e mulher, pai e mãe, são « cooperadores do amor de Deus criador e como que os seus intérpretes». Mostram aos seus filhos o rosto materno e o rosto paterno do Senhor. Além disso, é juntos que eles ensinam o valor da reciprocidade, do encontro entre seres diferentes, onde cada um contribui com a sua própria identidade e sabe também receber do outro. Se, por alguma razão inevitável, falta um dos dois, é importante procurar alguma maneira de o compensar, para favorecer o adequado amadurecimento do filho”

“O sentimento de ser órfãos, que hoje experimentam muitas crianças e jovens, é mais profundo do que pensamos. Hoje reconhecemos como plenamente legítimo, e até desejável, que as mulheres queiram estudar, trabalhar, desenvolver as suas capacidades e ter objetivos pessoais. Mas, ao mesmo tempo, não podemos ignorar a necessidade que as crianças têm da presença materna, especialmente nos primeiros meses de vida. A realidade é que « a mulher apresenta-se diante do homem como mãe, sujeito da nova vida humana, que nela é concebida e se desenvolve, e dela nasce para o mundo». O enfraquecimento da presença materna, com as suas qualidades femininas, é um risco grave para a nossa terra. Aprecio o feminismo, quando não pretende a uniformidade nem a negação da maternidade. Com efeito, a grandeza das mulheres implica todos os direitos decorrentes da sua dignidade humana inalienável, mas também do seu gênio feminino, indispensável para a sociedade. As suas capacidades especificamente femininas – em particular a maternidade – conferem-lhe também deveres, já que o seu ser mulher implica também uma missão peculiar nesta terra, que a sociedade deve proteger e preservar para bem de todos.”

“ Queridas mães, obrigado, obrigado por aquilo que sois na família e pelo que dais à Igreja e ao mundo»”

Bom, com toda a licença… fiquem com mais palavras maravilhosas do Papa Francis

“A mãe, que ampara o filho com a sua ternura e compaixão, ajuda a despertar nele a confiança, a experimentar que o mundo é um lugar bom que o acolhe, e isto permite desenvolver uma auto-estima que favorece a capacidade de intimidade e a empatia. Por sua vez, a figura do pai ajuda a perceber os limites da realidade, caracterizando-se mais pela orientação, pela saída para o mundo mais amplo e rico de desafios, pelo convite a esforçar-se e lutar. Um pai com uma clara e feliz identidade masculina, que por sua vez combine no seu trato com a esposa o carinho e o acolhimento, é tão necessário como os cuidados maternos. Há funções e tarefas flexíveis, que se adaptam às circunstâncias concretas de cada família, mas a presença clara e bem definida das duas figuras, masculina e feminina, cria o âmbito mais adequado para o amadurecimento da criança.”

“Diz-se que a nossa sociedade é uma «sociedade sem pais». Na cultura ocidental, a figura do pai estaria simbolicamente ausente, distorcida, desvanecida. Até a virilidade pareceria posta em questão. Verificou-se uma compreensível confusão, já que, «num primeiro momento, isto foi sentido como uma libertação: libertação do pai-patrão, do pai como representante da lei que se impõe de fora, do pai como censor da felicidade dos filhos e impedimento à emancipação e à autonomia dos jovens. Por vezes, havia casas em que no passado reinava o autoritarismo, em certos casos até a prepotência ».Mas, « como acontece muitas vezes, passa-se de um extremo ao outro. O problema nos nossos dias não parece ser tanto a presença invasora do pai, mas sim a sua ausência, o fato de não estar presente. Por vezes o pai está tão concentrado em si mesmo e no próprio trabalho ou então nas próprias realizações individuais que até se esquece da família. E deixa as crianças e os jovens sozinhos»".

"Hoje, a autoridade é olhada com suspeita e os adultos são duramente postos em discussão. Eles próprios abandonam as certezas e, por isso, não dão orientações seguras e bem fundamentadas aos seus filhos. Não é saudável que sejam invertidas as funções entre pais e filhos: prejudica o processo adequado de amadurecimento que as crianças precisam de fazer e nega-lhes um amor capaz de as orientar e que as ajude a maturar".

"Estar presente não significa ser controlador, porque os pais demasiado controladores aniquilam os filhos». Alguns pais sentem-se inúteis ou desnecessários, mas a verdade é que «os filhos têm necessidade de encontrar um pai que os espera quando voltam dos seus fracassos."

Toda carta segue ainda falando dos casais que não podem ter filhos e como eles podem viver a maternidade e a paternidade e também fala sobre famílias monoparentais. Infelizmente, não temos tanto espaço e tempo para desenrolar todo o assunto, por isso mais uma vez, eu digo que o mais importante é que todos possam ler a Exortação porque ela nos ajuda a pensarmos nas nossas relações como um todo, sobretudo ter o desejo de sermos pessoas capazes de amar, sobretudo em nossas famílias… creio que nos jovens, acenda o desejo de poder formar uma família Cristã e para isso, devemos pedir sempre a Graça de Deus.

O que eu fiz aqui no blog foi expor trechos da Exortação e espero que vocês tenham gostado do que leram, não do que eu escrevi, mas do que o Papa escreveu e tenham se interessado por ler Amoris laetitia!

Por último, deixo aqui mais um trecho, que espero que seja esclarecedor sobre aquela questão que causou alvoroço na mídia e nas redes sociais:

“A Igreja conforma o seu comportamento ao do Senhor Jesus que, num amor sem fronteiras, Se ofereceu por todas as pessoas sem exceção. Com os Padres sinodais, examinei a situação das famílias que vivem a experiência de ter no seu seio pessoas com tendência homossexual, experiência não fácil nem para os pais nem para os filhos. Por isso desejo, antes de mais nada, reafirmar que cada pessoa, independentemente da própria orientação sexual, deve ser respeitada na sua dignidade e acolhida com respeito, procurando evitar « qualquer sinal de discriminação injusta » e particularmente toda a forma de agressão e violência. Às famílias, por sua vez, deve-se assegurar um respeitoso acompanhamento, para que quantos manifestam a tendência homossexual possam dispor dos auxílios necessários para compreender e realizar plenamente a vontade de Deus na sua vida. No decurso dos debates sobre a dignidade e a missão da família, os Padres sinodais anotaram, quanto aos projetos de equiparação ao matrimônio das uniões entre pessoas homossexuais, que não existe fundamento algum para assimilar ou estabelecer analogias, nem sequer remotas, entre as uniões homossexuais e o desígnio de Deus sobre o matrimônio e a família. É «inaceitável que as Igrejas locais sofram pressões nesta matéria e que os organismos internacionais condicionem a ajuda financeira aos países pobres à introdução de leis que instituam o “matrimônio” entre pessoas do mesmo sexo».”

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