Vigília com o Papa e Missa de Envio - 5 JMJs e ainda me pergunto como sobrevivo a esse final de semana...

No sábado, 30 de julho, tivemos que levantar bem cedo. Como eu não fui na Via Sacra, na sexta de noite já dei uma boa arrumada na mochila que precisava estar bem reforçada para o final de semana. E eu ainda tinha que arrumar a mochila do meu irmão.
Assim, no sábado cedo, eu estava com as coisas bem ajeitadas.
Por experiência, eu digo que quanto mais cedo puder chegar no local da Vigília, chegue. É mais tranquilo, você pode escolher melhor o lugar onde quer ficar dentro do seu setor e é melhor para ficar o grupo todo junto. Ah!!!!!!!!! e você consegue aproveitar as primeiras horas dos banheiros que ainda estão limpos!!!
Bom, a caminhada até o local da Vigília não é fácil. Geralmente é mais de hora andando, com as mochilas mais pesadas do que o normal, até porque estamos carregando lonas e sacos de dormir.... E pra ajudar, no meio do caminho ainda tivemos que pegar os kits de comida... debaixo de um sol absurdo, num calor absurdo! Eu não sei como consegui chegar viva no campo.
Bom, fomos os primeiros a chegar e nos "instalamos".
Não há muito o que dizer sobre esse dia....

Ficamos lá, esperando a noite chegar e a Vigília começar... enquanto isso, interagimos com algumas pessoas e só tentamos sobreviver ao sol de rachar e ao calor.

Agora...uma observação chocante.... havia os banheiros de cabine.... e havia mictórios. AO AR LIVRE!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Você virava ali, e os CARAS ESTAVAM FAZENDO XIXI NA FRENTE DE TODO MUNDO, NUMA BOA!!!!!!!!!!!!!! Ok. Não dava pra ver nada comprometedor, mas......Era constrangedor, de qualquer forma. E europeu não tem muito pudor.

Muita gente vai parar nessas ambulâncias... 

Ainda acharam força para bater uma pelada naquele calor de lascar

Escorados

Dessa vez, não conseguimos ver o Papa, estávamos muito longe do caminho do "tour papal". E depois, só acompanhamos tudo pelo telão.

Nessa celebração sempre tem shows com algumas celebridades locais e testemunhos de jovens, até que o Papa faz seu discurso.
A fala de Francisco começou fazendo referência aos testemunhos dos três jovens que tinham falado, focando, sobretudo no que havia dito um jovem sírio. O Papa nos exortava a paz e também a termos um olhar de misericórdia para com todas as pessoas que sofrem. Ainda que a guerra da Síria pudesse parecer muito distante da nossa realidade, e por isso, não podemos fazer nada para mudar isso, a mudança começa com aquilo que podemos fazer perto de nós, começando por exemplo, com o simples gesto de olhar para o outro, de escutar o outro.

"A nossa resposta a este mundo em guerra tem um nome: chama-se fraternidade, chama-se irmandade, chama-se comunhão, chama-se família. Alegramo-nos pelo facto de virmos de culturas diferentes e nos unirmos para rezar. Que a nossa palavra melhor, o nosso melhor discurso seja unirmo-nos em oração. (...) Coloquemos na presença do nosso Deus também as vossas «guerras», as nossas «guerras», as lutas que cada um carrega consigo, no seu próprio coração."

Depois do momento de oração, o Papa recordou o momento de Pentecostes, em que os discípulos estavam paralisados pelo medo, forçados a estarem trancados numa sala, sem sabe o que fazer. Até que então, lhes é enviado o Espírito Santo que tira deles o medo e os coloca em movimento novamente.
Então, o Papa fez uma analogia com as nossas vidas falando de quantas vezes, passamos por momentos e situações que nos enchem de medo e que o medo nos leva ao "fechamento" e a paralisia.

"Sentir que, neste mundo, nas nossas cidades, nas nossas comunidades, já não há espaço para crescer, para sonhar, para criar, para contemplar horizontes, em suma, para viver, é um dos piores males que nos podem acontecer na vida, sobretudo na juventude. A paralisia faz-nos perder o gosto de desfrutar do encontro, da amizade, o gosto de sonhar juntos, de caminhar com os outros."

Quer dizer, o medo nos impede, sobretudo, de amar.

E mais uma vez o Papa falou do sofá.......................................... Ai meu sofá. Aliás, estou nele agora mesmo.

"Na vida, porém, há outra paralisia ainda mais perigosa e difícil, muitas vezes, de identificar e que nos custa muito reconhecer. Gosto de a chamar a paralisia que brota quando se confunde a FELICIDADE com um SOFÁ/KANAPA. Sim, julgar que, para ser felizes, temos necessidade de um bom sofá. Um sofá que nos ajude a estar cômodos, tranquilos, bem seguros. Um sofá – como os que existem agora, modernos, incluindo massagens para dormir – que nos garanta horas de tranquilidade para mergulharmos no mundo dos videojogos e passar horas diante do computador. Um sofá contra todo o tipo de dores e medos. Um sofá que nos faça estar fechados em casa, sem nos cansarmos nem nos preocuparmos. Provavelmente, o «sofá-felicidade/kanapa-szczęście» é a paralisia silenciosa que mais nos pode arruinar, que mais pode arruinar a juventude. «E porque acontece isto, padre?» Porque pouco a pouco, sem nos darmos conta, encontramo-nos adormecidos, encontramo-nos pasmados e entontecidos. Anteontem falei dos jovens aposentados aos vinte anos; hoje falo dos jovens adormecidos, pasmados, entontecidos (...)"

Gente. Quando o Papa falou dos jovens aposentados aos 20 anos, fiquei muito chocada. Se tem uma coisa que eu falo desde que eu tinha 19 anos é que eu não vejo a hora de me aposentar. Porque eu sou muito essa pessoa que só quer evitar a fadiga... Foi muito pra mim isso. Ainda bem que Deus manda muitos acontecimentos que me obrigam a me mexer, porque se dependesse de mim.... aff.

"Amigos, Jesus é o Senhor do risco, o Senhor do sempre «mais além». Jesus não é o Senhor do conforto, da segurança e da comodidade. Para seguir a Jesus, é preciso ter uma boa dose de coragem, é preciso decidir-se a trocar o sofá por um par de sapatos que te ajudem a caminhar por estradas nunca sonhadas e nem mesmo pensadas, por estradas que podem abrir novos horizontes, capazes de contagiar-te a alegria, aquela alegria que nasce do amor de Deus, a alegria que deixa no teu coração cada gesto, cada atitude de misericórdia. Caminhar pelas estradas seguindo a «loucura» do nosso Deus, que nos ensina a encontrá-Lo no faminto, no sedento, no maltrapilho, no doente, no amigo em maus lençóis, no encarcerado, no refugiado e migrante, no vizinho que vive só. Caminhar pelas estradas do nosso Deus, que nos convida a ser atores políticos, pessoas que pensam, animadores sociais; que nos encoraja a pensar uma economia mais solidária do que esta. Em todos os campos onde vos encontrais, o amor de Deus convida-vos a levar a Boa Nova, fazendo da própria vida um dom para Ele e para os outros. Isto significa ser corajosos; isto significa ser livres."

"Dir-me-ás: Mas, padre, eu sou muito limitado, sou pecador… que posso fazer? Quando o Senhor nos chama não pensa naquilo que somos, naquilo que éramos, naquilo que fizemos ou deixamos de fazer. Pelo contrário: no momento em que nos chama, Ele está a ver tudo aquilo que poderemos fazer, todo o amor que somos capazes de comunicar. Ele aposta sempre no futuro, no amanhã. Jesus olha-te projetado no horizonte, nunca no museu. "

"A vida de hoje diz-nos que é muito fácil fixar a atenção naquilo que nos divide, naquilo que nos separa. Querem fazer-nos crer que fechar-nos é a melhor maneira de nos protegermos daquilo que nos faz mal. Hoje nós, adultos – nós, adultos –, precisamos de vós para nos ensinardes – como estais a fazer hoje – a conviver na diversidade, no diálogo, na partilha da multiculturalidade não como uma ameaça mas como uma oportunidade. "

Nossa, como é bom recordar essas palavras! Como é bom ver que o Papa tem essa sensibilidade, que entende os nossos conflitos e sentimentos!



Depois que ele foi embora, nós fomos dormir.
MAS NÃO É VIGÍLIA????

É. Só que gente. Depois daquele calor todo, daquela andança toda.... a noite estava fresca, nosso saco de dormir estava tão convidativo.... honestamente? Eu apaguei! E ainda bem, porque seria o único jeito de aguentar o dia seguinte.

No domingo eu levantei antes do sol nascer... hum..... dica.
No sábado de noite, os banheiros ficam insuportáveis. Eu nem consigo usar. Mas lá pelas 5h da manhã do domingo, eles passam com aqueles caminhões higienizadores e deixam os banheiros limpinhos. Sério. Sugam toda a sujeira, lavam e desinfetam. Eu aprendi isso com a minha mãe, que é ainda mais manjadora de peregrinação do que eu. Nem que você volte a dormir depois, vale a pena levantar essa hora e usar o banheiro limpinho. Até porque tá todo mundo dormindo e então, não tem filas.
Na JMJ de Madrid, eu tava tão capotada que não fui com minha mame no banheiro de madrugada. Resultado? Depois não consegui mais ir.

Ok. Agora todo mundo sabe minha dica e todo mundo vai no banheiro de madrugada.... mas isso também é mais pras mulheres né, que tem uma situação mais delicada.

Então, na medida do possível, a gente se apronta para a Missa de Envio.
Ai, o sol nasceu rachando, o calor rachando.... não tava fácil.

O Evangelho daquele dia foi o que conta o encontro de Jesus com Zaqueu. O que ficou marcado da homilia do Papa foi lembrar, mais uma vez, que Jesus não olha pros nossos pecados e fraquezas, mas nos ama como somos e quer ser um conosco, que entrar em nossa casa e nos salvar! Essa é nossa esperança! Cristo nos ama como somos! De nós, só depende ter a atitude de Zaqueu. Aceitar o chamado de Jesus, descer dos nossos projetos, do nosso orgulho e da nossa vontade, acolher o Cristo e deixar que Ele nos ame e nos dê Sua Graça!

A íntegra da homilia você pode ler aqui. 

No final da Missa, o Papa nos convocou para estar no Panamá em 2019. Mas sobre isso falaremos depois.

Quando acaba, dá um sentimento meio triste.... a JMJ chegou ao fim. Mas ao mesmo tempo, recebemos uma boa dose de combustível para voltar para casa, mais animados em nossa missão.

Quando a Missa acaba é meio corrido. Queremos sair o quanto antes dali, porque depois vira aquele caos. Temos que juntar tudo rapidamente e retomar a caminhada.
Gente. A volta é muito dura. Andamos mais ainda que pra ir e estávamos ainda mais mortos, carregando aquelas mochilas. Eu chorei no meio do caminho, eu não aguentava mais. Queria parar, me jogar em algum lugar. Olha, é nessas horas que eu sei que quem me carrega é meu Anjo da Guarda mesmo, porque eu.... não tinha mais força não. E o sol lascando na cabeça... de repente, virou uma meeega chuva que nos encharcou e encharcou nossas mochilas.
Quando finalmente chegamos nos ônibus, depois de duas horas andando.... nossa, eu nem acreditava. Tudo que eu queria era ir pra casa, tomar um banho e dormir.
Só que....... nos disseram que teríamos que ir pra algum lugar comer e depois teríamos que ir pra Igreja porque teria sei lá o que. Nosssssaaa, quando disseram isso, eu chorei muito. Muito. Eu não aguentava mais nada. Não tinha condições nenhuma de fazer mais nada aquele dia. Apenas tomar banho e dormir.
Estava uma tempestade absurda, pra ajudar.
Olha, Deus sabia que a gente não aguentava mais. Ai, o que aconteceu foi que o outro ônibus do nosso grupo ficou preso não sei onde, porque interditaram algumas vias para o Papa passar e ai cancelaram o evento da noite.
Nossa, mais uma vez, GRAÇAS A DEUS. Assim, fomos direto para a casa.
Mas e o outro ônibus????
Bom, eles chegaram uma meia hora depois que nós na região onde estávamos sendo acolhidos.

Gente. É verdade. Eu estava morta. Mas estava mega mega mega feliz. Quando a gente olha pra tudo que vivemos.... todos os perrengues que passamos, nos sentimos muito amados por Deus. Eu, pelo menos, me sinto.

Bom. Mas ainda não tinha acabado.

No dia 1 de agosto, voltamos para o Campo da Misericórdia para um Encontro Vocacional. Foi mais um dia maravilhoso!

Você pode saber mais sobre esse encontro lendo esta matéria aqui